O mundo do futebol brasileiro está em choque com novas revelações sobre um suposto esquema de manipulação de resultados. O empresário William Rogatto, em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, fez acusações graves contra dirigentes de clubes, árbitros e até mesmo a presidente da CBF. As denúncias, se comprovadas, podem abalar as estruturas do esporte mais popular do país.
O Wilson [Seneme] é um caso bem, bem, bem forte, porque o Wilson é quem direciona os árbitros das partidas. Então, quando você quer beneficiar um clube, é só falar com o Wilson, ele vai direcionar o árbitro que também já está no esquema, e ele vai fazer com que aquele árbitro prejudique aquele jogo. Hoje, a peça fundamental se chama Wilson Luiz. As pessoas acham que é brincadeira, que futebol é brincadeira, mas um árbitro hoje prejudica totalmente um time. As pessoas falam: “Ah, quer dizer que o Palmeiras não tinha time para ganhar, para ser campeão?” Em nenhum momento foi falado isso. Porém, se tem um árbitro e um atleta, ou dois atletas nesse time, ele desestrutura totalmente o resultado.
[Teve árbitro nesses jogos do Palmeiras?] Tem, tem, tem, eu inclusive já falei para a CPI e mostrei para eles que árbitro de primeira divisão hoje, com salário minúsculo, é o alvo mais forte que eu já tive, os árbitros sempre foram o meu alvo mais forte. Jogadores sempre teve esse negócio de: “Pô, será que vai, será que não”, e aí eu mexia com a cabeça deles em questão de valores. Jogadores sempre foi mais difícil de relutar com eles. Agora, árbitro, sempre foi fácil. Então, o esquema todo já está, arbitragem hoje define o jogo. Hoje, o escândalo maior, e foi onde eu pontuei, não vamos julgar os atletas, porque tem que começar lá atrás, como eu já falei, tem todo um parâmetro para chegar no atleta. O atleta quer ganhar o dinheiro dele, estamos falando de dinheiro. Os árbitros fazem isso também, porque ganham muito pouco.
O Que Está em Jogo no Futebol?
A manipulação de resultados no futebol é um crime que pode ter consequências graves para os clubes, os jogadores e os torcedores. Além disso, a prática pode afetar a credibilidade do esporte e gerar prejuízos financeiros para os patrocinadores e investidores.
Teve árbitro que estava apitando um jogo do Palmeiras, inclusive apitou vários, que eu já tinha feito trabalho com ele, então eu sabia que ali ia ter um esquema, entende? Não [pode dar o nome do árbitro], só para a CPI eu vou entregar isso aí. A CPI já está tendo acesso a algumas coisas que eu estou mandando para eles. Eles podem confirmar ou não. Então, assim, as pessoas não estão vendo, e a CPI está segurando. E aí é também o interesse da CPI mandar ou não, a investigação é deles.
Isso é nítido. É igual eu falo, “apresenta as provas”. Cara, eu vou apresentar que os árbitros lá, que já trabalharam pra mim, estavam naquele jogo. Aliás, em alguns jogos. Então, só quem tem dinheiro, como eu da mesma forma fazia e pagava… Você acha que a Leila também não fez? Até porque o interesse dela realmente é fazer com que o Palmeiras seja… Até porque ela tem outras prioridades e, de repente, a gente já sabe que ela teve algumas propostas, que ela é apaixonada por algum time do Rio… Então, tudo aí pode ser uma ligação para tudo acontecer. E ela está crescendo muito no Palmeiras. Ela está usando do que ela tem de artifício para conseguir o que ela quer e o objetivo onde ela quer chegar. E está tudo certo. Não vejo nada de errado.
As Acusações de William Rogatto
William Rogatto, o centro das atenções, afirmou ter conhecimento de um esquema de corrupção que envolve a manipulação de resultados em diversos jogos do Campeonato Brasileiro. Segundo ele, árbitros eram pagos para favorecer determinados times e prejudicar outros. O empresário também acusou dirigentes de clubes de participarem ativamente do esquema.
Uma das acusações mais graves é a que envolve a presidente do Palmeiras, Leila Pereira. Rogatto alega que ela teria "comprado o silêncio" de algumas pessoas para garantir o sucesso do time.
[Leila pagou arbitragem para influenciar jogos do Botafogo?] Ah, isso aí não precisa nem comentar. Para quem quiser enxergar, é só assistir aos jogos. Os jogos que o Botafogo fez, as dez últimas rodadas no Botafogo, todas teve participação de árbitros. Tá doido. É nítido isso aí. Eu mantenho [as acusações] pelo que eu conheço e pelas pessoas que estavam envolvidas. Que eram as mesmas que se envolveram comigo antes.
2023 é nítido, é nítido. Beneficiou o Palmeiras e atrapalharam o Botafogo, até porque o John Textor hoje veio com uma filosofia diferente e ele montou um time de verdade competitivo no Botafogo. Cara, ninguém parava o Botafogo. Estranhamente, dez jogos, os dez últimos jogos, o Botafogo não conseguia ganhar. “Ah, mas é incapacidade”. Não, não é incapacidade. Entenda, quando um árbitro dá um gol irregular, ou ele não apita um impedido que foi impedimento, ou ele expulsa jogadores para trabalhar de 11 contra 10, tudo isso beneficia para que um resultado venha a dar errado. E aí tem que desdobrar para poder buscar o resultado. Então assim, eu estou te falando em questão de pessoas que já trabalharam comigo e estavam trabalhando nesses jogos. Eu afirmo isso porque eu sei que eles aceitam o dinheiro. E da forma que foi, os erros que foi, só quem é realmente do ramo conhece os erros. Então, realmente, eu falo pra você, em 2023, realmente teve sim, participação. Olha esse ano como está. Analisa esse ano como está. É porque eu estou falando aqui. Mas se eles forem corajosos, eles vão prejudicar de novo. Aí é só vocês baterem em cima de árbitro. O próprio Wilson… Quem que colocou esse cara para representar os árbitros do Brasil? Ele fala que o VAR não é obrigado a mostrar todas as cenas para o árbitro. Desculpa, Wilson. Se condenou, meu amigo. Tem nem que falar mais nada pra você, né?
A Reação das Autoridades
As autoridades brasileiras estão investigando as denúncias de William Rogatto. O senador Carlos Portinho, membro da CPI, está negociando uma delação premiada com o empresário, na esperança de obter mais provas sobre o esquema.
A gente vai prevaricar [se não prendê-lo]. Como é que a gente vai estar na Europa com um foragido com três mandados de prisão? O interesse público maior é entender essa teia dessa máfia de apostas. A gente está nesse momento de diligência com o Ministério da Justiça para buscar um acordo de delação premiada. É uma possibilidade. E tem a possibilidade de a gente ir em segurança à Europa e pegar depoimento e provas.
É uma caixa sem fundo, não é só preta não, infelizmente. Azar do futebol. A gente vem desde as denúncias do Textor investigando o que no imaginário popular sempre aconteceu. Antes das bets, poderia ser por acesso, descenso de um clube, rebaixamento e, a partir das bets, com interesse financeiro. A gente sabe dos problemas do futebol brasileiro, são muitos, clubes que atrasam o pagamento do salário, árbitros que ganham mal, que não foram profissionalizados, que é um tema importante a se debater, a gente sabe que há dirigentes que rifam os seus próprios clubes e terceirizam os departamentos de futebol e a gente já sabe, através do depoimento do membro do Ministério Público de Goiás, que desbaratou a manipulação no estado, a partir de uma denúncia do presidente do Vila Nova, que há células de manipulação que transitam no território nacional. Em um campeonato estão no Mato Grosso do Sul, no outro vão para Alagoas, no outro vão para a Paraíba, passam pelo Rio, estão em São Paulo.
E o que o depoimento do William Rogatto traz, parte dele pode ser o depoente se vangloriando, talvez até do que não fez, mas quero lembrar que ele tem três mandados de prisão, ou seja, os crimes que ele cometeu de manipulação já são investigados e eu não tenho dúvida que muito do que ele falou ele tem prova e tem uma dificuldade apenas nesse momento, porque ele é foragido, de montar uma estratégia para que poder trazer essas provas e ter algum benefício por isso, porque a gente precisa de uma delação premiada. A gente precisa de uma negociação para que a gente saiba quais são os outros peixes e se existem peixes maiores. Como ele diz, ele é o segundo maior manipulador, ele diz que tem um primeiro. E a gente viu ali denúncia de manipulação na Série D, Série C, Série B, o que para mim isso é certo, e também ele fala da Série A, o que demanda ainda mais prova. Série B, Série C, Série D, a gente já tinha lá na CPI os alertas da Sportradar, mais de 200 partidas em 2023, nos anos anteriores um número semelhante, esse ano dizem que diminuíram os alertas. Que bom, isso mostra que a CPI está jogando luz no problema e talvez aqueles que manipulam estejam tendo mais cuidado, mas isso não deixou de acontecer, continua acontecendo e há uma inércia e uma negação não só da CBF, mas também tenho que dizer de parte da imprensa. É mais fácil a gente negar do que enfrentar o problema. A CPI tem algumas limitações, mas a gente já viu que não foi choro de perdedor, não é porque o Botafogo perdeu um campeonato, isso existe, não é história da carochinha. O primeiro sintoma é a negação, infelizmente. Para a gente resolver o problema, a gente tem que admitir que há manipulação no futebol brasileiro, aliás no futebol mundial. Se há manipulação desde 2009 no escândalo da Uefa, o caso Paquetá recente na Inglaterra e tantos outros acontecendo, por que o Brasil estaria imune a isso?
O presidente da CPI, Jorge Kajuru, também se manifestou sobre o caso, pedindo a punição de árbitros que, segundo ele, estariam envolvidos em atos de corrupção.
Como presidente da CPI, não tenho uma outra solução a não ser entrar com um pedido à CBF, através da Comissão de arbitragem, primeiro pela punição, segundo que ela seja uma suspensão dura, rigorosa e, por último, até a eliminação desse cara, o tal do Caio Max, que voltou a roubar o Goiás; É o que eu posso fazer, é o que eu vou fazer, porque realmente fica difícil.
Eu não sei se vocês se lembram, mas há mais de um mês eu avisei aqui neste meu horário que o meu medo era o momento das últimas rodadas, onde times seriam privilegiados. O que quer dizer privilegiado? No momento em que nós sabemos que o escândalo do futebol brasileiro sobre manipulação de resultados é absolutamente indiscutível e insofismável, um time compra um árbitro, compra um auxiliar de árbitro, compra um jogador até para levar cartão amarelo. Um árbitro normalmente ganha em média R$ 6 mil por jogo. Ele não aceita uma propina de R$ 50 mil?
Conforme aquele mesmo bandido, confesso, que fala que ganhou R$ 300 milhões com manipulação, aquele William Rogatto, ele mesmo falou: “Kajuru, se um árbitro que ganha R$ 6 mil vai aceitar ganhar R$ 50 mil, imagine quem é árbitro do VAR, que ganha R$ 1.500 por jogo? Ele não vai aceitar R$ 50 mil de propina?” Óbvio que vai! E esse é meu medo nessas últimas rodadas. Quem é que tem mais poder de chegar e comprar um árbitro? Ainda mais quando você joga em casa, como foi o caso ontem [quinta] no Independência, do América-MG.