Ao entender os benefícios e os desafios desse modelo, podemos construir um futuro mais promissor para o nosso esporte.
O fair play financeiro tem sido um tema quente no futebol brasileiro, especialmente após os altos investimentos de clubes como o Botafogo. Mas afinal, o que é o fair play financeiro e como ele impacta os clubes brasileiros? Neste artigo, vamos desmistificar esse conceito e entender como ele pode afetar o futuro do futebol nacional.
O que é Fair Play Financeiro?
O fair play financeiro é um conjunto de regras que visa garantir a sustentabilidade financeira dos clubes de futebol. Em resumo, ele impede que os clubes gastem mais do que arrecadam, evitando problemas financeiros futuros e garantindo uma competição mais justa.
O Impacto do Fair Play Financeiro no Futebol Brasileiro
O economista Cesar Grafietti aponta que o fair play financeiro pode impactar os clubes brasileiros de maneiras diferentes. Clubes com gestão mais eficiente e menos dívidas, como o Cuiabá, se adaptariam mais facilmente. Por outro lado, clubes com grandes dívidas e estruturas menos sólidas, como o Internacional e o Corinthians, teriam mais dificuldades.
Sempre hipoteticamente falando, usando os modelos que tem lá fora, que não consideram dívida nessa situação, claramente os “suspeitos” de sempre são aqueles que estão melhores, que se adaptariam mais rapidamente. Flamengo, Palmeiras, Athletico-PR, Fortaleza, Grêmio. São clubes que estão mais adaptados. No caso das SAFs, por exemplo, o Atlético-MG. O Cruzeiro do Ronaldo certamente estaria mais próximo desse equilíbrio. Nos demais, mesmo o Botafogo ou o Atlético-MG, de certa forma, precisamos ver números para ver se de fato eles se reequilibraram ou não. O dirigente fala muito que está assim ou está assado, mas nós nunca sabemos enquanto os números não chegam. Muitas vezes, quando aparecem, desmentem o que o dirigente falou ao longo da temporada. Ao mesmo tempo, temos alguns casos mais complicados. Internacional, Corinthians, Santos, Fluminense. O São Paulo no meio desse caminho entre um e outro. São clubes que teriam muita dificuldade em se adaptar rapidamente. Precisariam de um bom tempo para conseguir entrar em equilíbrio. Clubes como Juventude, o Cuiabá e o Criciúma, por exemplo, facilmente se adaptariam porque já operam em equilíbrio. O Cuiabá, de pequeno porte, é relativamente competitivo há três anos na primeira divisão mesmo com menos dinheiro do que outros. Porque não tem dívida, tem uma gestão eficiente, gasta só o que pode. Talvez a grande dificuldade no Brasil hoje seja que muitos clubes importantes de grande torcida estão em dificuldades e desvirtuando o mercado. Mas temos, sim, uma boa parte que já andou, já evoluiu nesse sentido e se encontra em uma condição mais equilibrada.
O Caso Botafogo: Um Estudo de Caso
O Botafogo é um exemplo de como o fair play financeiro pode ser um fator de transformação para um clube. Com a chegada de novos investimentos, o clube conseguiu reestruturar suas dívidas e montar um elenco competitivo. No entanto, essa rápida ascensão também pode gerar questionamentos sobre a sustentabilidade do modelo.
Isso vale para o Brasil e para qualquer mercado. No futebol, não se tira dinheiro com dividendo (retorno percentual do lucro aos acionistas), se ganha comprando um clube barato, entre aspas, de divisão inferior ou, geralmente, de terceiro terço de tabela. Investe, melhora a estrutura, cresce, aumenta as receitas e o valor final, aplicando um múltiplo melhor numa receita maior. A segunda forma, que pode estar associada ou não, é ter uma estrutura de formação de jogadores, que pode ser de base ou de compra. Você compra por 100 e vende por 1.000, vai ganhar um bom dinheiro e distribui parte disso para o acionista. Só se ganha dinheiro com futebol fazendo bem essas duas operações. Melhorando a gestão do clube e crescendo do ponto de vista esportivo e de receitas ou vendendo atletas. Há um caso claro de valorização, que é o Cruzeiro. Quando o Ronaldo entra, ele e a estrutura dele aportam algo em torno de R$ 50 a 70 milhões e depois vendem por volta de R$ 150 milhões ao Pedro Lourenço (empresário). Ele ajudou no processo de reestruturação das dívidas, subiu o clube, manteve-se na Série A no primeiro ano, organizou uma estrutura operacional bastante eficiente e vendeu. Teve um ganho justamente nessa transição. As outras SAFs também são parecidas com isso? Eu acho que, dentre todas elas, a mais clara é o Botafogo. Vinha de um processo de reestruturação, já tinha subido ali naquele “pré-John Textor“, só que hoje se tornou um clube competitivo de fato. Saiu da zona intermediária baixa de tabela, já está numa zona mais alta, fazendo mais receitas. Se o Textor quisesse vender o clube hoje, certamente já valeria mais do que valia quando ele pegou. O Vasco ainda está em transição. O Bahia tem um outro modelo, que é de estar dentro de um grupo grande como o City e vai trabalhar essa formação de atletas muito mais do que simplesmente valorizar para vender. O Coritiba ainda é muito recente. Mas o Cruzeiro já é um caso executado, realizado o ganho. O Botafogo é um caso claro de clube que mudou de patamar a partir do momento que virou SAF.
Os Benefícios do Fair Play Financeiro
- Sustentabilidade financeira: Evita que os clubes entrem em crises financeiras.
- Competição mais justa: Reduz as desigualdades entre os clubes.
- Melhoria da gestão: Incentiva os clubes a terem uma gestão mais eficiente.
- Proteção dos torcedores: Evita que os clubes sejam vendidos por dívidas.
Os Desafios do Fair Play Financeiro no Brasil
- Adaptação dos clubes: Muitos clubes brasileiros ainda precisam se adaptar às novas regras.
- Controle dos investimentos: É preciso encontrar um equilíbrio entre permitir investimentos e evitar a criação de bolhas financeiras.
- Regulamentação: A falta de uma regulamentação clara e eficiente pode dificultar a implementação do fair play financeiro no Brasil.