Torcedores do Botafogo comemoram os títulos da Libertadores e do Brasileirão em 2024, em uma imagem que simboliza a paixão e a união do clube.

Em um ano marcado por reviravoltas e emoções intensas, o Botafogo protagonizou uma história de superação e glória que ecoou por todo o Brasil. A equipe, que há anos vivia um período de instabilidade, renasceu das cinzas e, sob o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), conquistou títulos históricos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro.

A Transformação Através da SAF

A chegada da SAF ao Botafogo, em 2021, marcou um novo capítulo na história do clube. Com investimentos em infraestrutura, contratação de novos jogadores e uma gestão profissionalizada, o Glorioso iniciou um processo de reconstrução que culminou nos títulos de 2024.

O modelo de SAF, que vem se popularizando no futebol brasileiro, tem como objetivo trazer mais profissionalismo e transparência aos clubes, permitindo que eles atraiam investimentos e se tornem mais competitivos. No caso do Botafogo, a SAF foi fundamental para a recuperação financeira e a montagem de um time capaz de brigar pelos principais títulos do continente.

A Opinião dos Ídolos

Afonsinho, um dos maiores ídolos da história do Botafogo, acompanhou de perto a conquista dos títulos e não escondeu a emoção. Em entrevista à Rádio Tupi, o ex-jogador exaltou a organização do time e destacou a importância de jogadores como Barboza e Luiz Henrique para o sucesso da equipe.

Foi um período intenso. A intensidade é a palavra de ordem do momento, no futebol. E sobrou para a torcida também. Foi muita coisa acumulada em pouco tempo, da maneira como foram as várias partidas decisivas em um espaço de tempo curto. Principalmente a decisão da Libertadores, foi um teste cardíaco mesmo. E eu que não sou tão assim, quando chegou perto do final, dos últimos 15 minutos, falei: ‘opa, será que eu vou ter alguma coisa aqui, algum piripaque?’. Porque a coisa foi muito exigente. E as características também foram muito curiosas, quer dizer, tudo que o torcedor torcia aconteceu o contrário. Tinha um bom cenário, o Botafogo num bom momento e tal, melhor do que o Atlético, no caso, mas decidir em um jogo pode dar qualquer coisa. E aquela história da expulsão com menos de um minuto, quer dizer, aí como é que o torcedor se comporta? Pensa que vai ter que segurar até onde der e vai ter aquele desespero, o outro time vai pressionar, é muito tempo com um jogador a menos… E aí, quando você está esperando o time se defender, o primeiro tempo acaba com 2 a 0. Quer dizer, é difícil de explicar, não tem como, mas felizmente foi para o nosso lado.

Aí, começa o segundo tempo, a gente é que teria que se resguardar para evitar gols e tal, quer dizer, a torcida é qual? É evitar de tomar gol. Pois não é que dá a saída e tomamos o gol? Tudo ao contrário, até acabar. Mas, quando você também ficava torcendo para acabar o jogo com aquele resultado, não queria saber nem pensar em acabar daquele jeito. Aí, vai o Botafogo e ainda fecha com gol, como foi também o final do jogo com São Paulo, que é o da conquista do Brasileiro. O jogo estava meio chato, deixando o tempo correr, mas é muito melhor para o torcedor, que está ali vibrando, ganhar o jogo do que empatar e poder comemorar com a vitória. Então, foi uma coroação mesmo, tudo em sequência e relacionado, tudo da mesma maneira, foi muito bom.

u vejo assim, o time está muito bem organizado em todos os sentidos. É muito bom ver o time e jogadores que se destacam. Todos, para chegar onde chegaram, têm qualidade e destaque. Alguns jogadores se destacam muito, como o (Alexander) Barboza. É um zagueiro com habilidade de meio-campo, de atacante. Joga onde estiver no campo, pode ser até na pequena área. É o que interessa sobretudo, a questão física e tudo. O Luiz Henrique é extraordinário. Acho importante você ter um jogador assim, que dribla, ter um jogador assim como o Garrincha, que é ofensivo, o cara que pega a bola e vai para cima. Porque é isso: se você dribla um ou dois, você praticamente equilibra a relação numérica, né? Senão, fica só naquele desenho tático previsto. É aí que o improviso, a criatividade acima de tudo, é o que mobiliza e emociona. Em última análise, é o que faz a paixão pelo esporte, no nosso caso, o futebol.

O Impacto no Futebol Brasileiro

A conquista do Botafogo repercutiu por todo o país e reacendeu a discussão sobre o modelo de gestão dos clubes brasileiros. A SAF se mostrou como uma alternativa viável para a modernização do futebol nacional, mas também levantou questionamentos sobre a perda da identidade dos clubes e a concentração de poder nas mãos de investidores.

O editorial do jornal O Globo, um dos mais importantes do país, destacou a importância da SAF para a recuperação do Botafogo, mas também alertou para os riscos do modelo, citando o caso do Vasco da Gama, que enfrenta dificuldades financeiras após se desvincular de seu investidor.

Confira o editorial:

Títulos do Botafogo reforçam sucesso do modelo empresarial no futebol

Apesar da eliminação da Copa Intercontinental, a trajetória vitoriosa do Botafogo neste ano — com intervalo de apenas uma semana, o clube conquistou a Copa Libertadores da América e o Campeonato Brasileiro — pôs em evidência o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), adotado pelo alvinegro carioca a partir de dezembro de 2021. A SAF, que impõe ao clube gestão empresarial, lhe abriu perspectivas, como demonstram os resultados.

Em 2020, o Botafogo fora rebaixado para a Série B depois de uma campanha medíocre. Como SAF, passou por profundas transformações. Elas incluíram reforço do elenco com algumas das contratações mais caras da história do futebol nacional. A estratégia se mostrou bem-sucedida. Em 2023, o clube fez uma campanha arrebatadora, liderando 31 das 38 rodadas do Brasileirão. Perdeu fôlego na reta final, acabando num frustrante quinto lugar (pelo menos pôde disputar a Libertadores). Neste ano, protagonizou campanhas exemplares, conquistando os títulos continental (inédito) e nacional (que não vencia desde 1995).

O modelo clube-empresa, da SAF, é adotado com sucesso nas principais ligas da Europa. Times como Manchester City, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain funcionam dessa forma, com apoio de grandes investidores. No Brasil, existem hoje mais de 60 SAFs em diferentes divisões. Na Série A, além do Botafogo, Fortaleza — que, embora seja SAF, mantém o controle do futebol internamente — e Bahia (do grupo que administra o inglês Manchester City) também fizeram campanhas notáveis. O Fortaleza chegou em quarto, o Bahia em oitavo, à frente de equipes tradicionais como Fluminense ou Grêmio. Na elite do futebol, também são SAFs Cruzeiro e Atlético-MG.

Claro que o sucesso de Botafogo e outras SAFs não se estende a todas. Há casos em que o modelo não deu certo. Um dos exemplos é o Vasco da Gama, que chegou em décimo lugar no Brasileiro depois de uma campanha de altos e baixos. A parceria com os investidores da 777 fracassou, levando o clube a travar uma batalha judicial contra o grupo. Como toda empresa, uma SAF pode sofrer de má gestão e fracassar. A SAF cruz-maltina está agora à venda.

Implantada no Brasil em 2021, a SAF se mostra interessante aos clubes sem capacidade de investimento. O modelo melhora a governança e reforça o profissionalismo em times que viviam no atoleiro. Não há dúvida de que, com mais dinheiro e gestões mais eficientes, eles podem reforçar seus elencos com jogadores de nível internacional e se credenciar aos principais títulos.

Mas, mesmo nos casos bem-sucedidos, o modelo não serve como receita única. Há outras alternativas. Palmeiras e Flamengo, que conquistaram seis dos últimos dez Brasileiros, são clubes com finanças saneadas, bem administrados, com grande capacidade de contratação. Cada time deve avaliar o melhor para o próprio perfil. O importante é deixar de lado o amadorismo que há anos caracteriza o futebol brasileiro e buscar administrações eficientes. É bom para os clubes e para o futebol.

A Audiência da TV Globo e o Futuro do Botafogo

A final da Libertadores, disputada entre Botafogo e Atlético-MG, registrou altos índices de audiência na TV Globo, demonstrando o interesse do público pela equipe carioca. A conquista dos títulos também impulsionou a marca do Botafogo e atraiu novos patrocinadores.

Com os títulos da Libertadores e do Brasileirão, o Botafogo se consolidou como uma das principais forças do futebol brasileiro e está pronto para encarar novos desafios na próxima temporada. A expectativa é que o clube continue investindo em seu elenco e em sua estrutura, buscando manter o alto nível de competitividade e conquistar novos títulos.

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