Na última segunda-feira (10/3), durante uma entrevista à TNT Sports, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, fez uma declaração surpreendente que causou grande repercussão no cenário esportivo brasileiro e internacional. A dirigente se mostrou indignada com a punição considerada branda pela Conmebol ao clube Cerro Porteño, do Paraguai, após um caso de racismo envolvendo o atacante Luighi, durante uma partida da Libertadores Sub-20.
Leila sugeriu que, caso a Conmebol continue a tratar com tanta leniência os casos de racismo no futebol, os clubes brasileiros poderiam considerar a possibilidade de se filiar à Concacaf, a Confederação Norte-Americana, Central Americana e do Caribe de Futebol. A proposta gerou uma série de discussões sobre o tratamento dado aos clubes brasileiros na América do Sul e a relação deles com a Conmebol.
O Caso de Racismo e a Indignação de Leila Pereira
A polêmica começou quando a Conmebol anunciou a punição ao Cerro Porteño. O clube paraguaio foi multado em US$ 50 mil e recebeu a pena de portões fechados em jogos da Libertadores Sub-20, após torcedores do time terem protagonizado um ato de racismo contra o atacante Luighi, do Palmeiras. No entanto, Leila Pereira e outros clubes brasileiros consideraram a pena muito suave para um crime tão grave.
A presidente do Palmeiras questionou a discrepância das penalidades aplicadas pela Conmebol, afirmando que, em casos de infrações menores, como atraso no início de partidas ou o uso de sinalizadores, os valores das multas são muito mais altos. Leila apontou que a punição contra o Cerro Porteño foi desproporcionalmente baixa, considerando a gravidade do ato de racismo. Ela destacou que o futebol brasileiro representa mais de 60% da receita da Conmebol, mas, mesmo assim, os clubes brasileiros não são tratados com o respeito que merecem.
A Proposta de Migração para a Concacaf
A indignação de Leila Pereira foi tão grande que ela fez uma sugestão ousada: se a Conmebol não for capaz de coibir de forma eficaz os crimes de racismo, os clubes brasileiros deveriam considerar a migração para a Concacaf, a confederação que organiza o futebol da América do Norte, Central e do Caribe.
Leila afirmou que, ao sair da Conmebol e se juntar à Concacaf, os clubes brasileiros poderiam ser tratados de maneira mais justa e, em termos financeiros, a mudança seria vantajosa para todos. Ela revelou que irá levar essa ideia para a reunião que terá com os presidentes de outros clubes brasileiros e com o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, na quarta-feira seguinte. A proposta gerou muitas reações, tanto favoráveis quanto contrárias, mas certamente acendeu um debate importante sobre a forma como a Conmebol lida com os clubes brasileiros.
O Brasil representando 60% da receita da Conmebol e os clubes brasileiros sendo tratados dessa forma. Eu vou lançar até uma ideia, uma reflexão para todos nós, já que a Conmebol não consegue coibir esse tipo de crime, como a Conmebol não consegue tratar os clubes brasileiros com o tamanho que os clubes brasileiros representam para a Conmebol, por que não pensar em nós nos filiarmos à Concacaf? Saímos da Conmebol e vamos para a Concacaf. Eu acho que só assim vão respeitar o futebol brasileiro. O futebol brasileiro não está sendo respeitado pela Conmebol. Então é uma coisa para se pensar, eu vou até conversar, eu tenho uma reunião quarta-feira na CBF, vou conversar com os clubes brasileiros que vão estar lá e com o presidente Ednaldo (Rodrigues, da CBF), que é uma semente para se plantar. Já que não somos respeitados aqui pelo órgão que controla o futebol da América do Sul, por que não irmos para a Concacaf? Com certeza, financeiramente, para todos os clubes brasileiros, seria muito melhor.
Eu quero dizer a minha indignação da pena aplicada pela Conmebol de US$ 50 mil dólares e portões fechados. Aliás, o Cerro nem está mais disputando a Libertadores, portões fechados em sub-20, vocês viram ontem, público quase absolutamente nenhum, acho que tinha meia dúzia de racistas lá nesse dia, não é? E a aplicação de US$ 50 mil dólares, crime de racismo, quando, se você atrasa um minuto para entrar em campo, são US$ 100 mil dólares, se acender sinalizador, US$ 78 mil dólares. Vocês vejam como a Conmebol encara o crime de racismo, isso é um absurdo. Então, nós ficamos indignados e nós, então, o que nós fizemos? Nós escrevemos uma carta, não só o Palmeiras, o Palmeiras e os clubes da Libra e da LFU assinam essa carta para a Fifa, solicitando que a Fifa intervenha nesses casos de racismo e que, juntamente com a Conmebol, intervenha na Conmebol, para que as penalidades sejam muito mais pesadas. Só com a certeza da punição que nós vamos coibir esse tipo de crime. Nós temos que tomar medidas firmes com relação à Conmebol, porque não é possível.
Racismo no Futebol: Um Problema Global
O racismo no futebol é um problema persistente que afeta jogadores e torcedores ao redor do mundo. Casos como o que envolveu o atacante Luighi são apenas a ponta do iceberg. Infelizmente, atitudes racistas dentro dos estádios continuam a acontecer, e a punição por esses atos, muitas vezes, não é suficientemente rigorosa. A discussão sobre o tratamento das confederações e federações, tanto na América do Sul quanto no restante do mundo, é essencial para garantir que o futebol seja, de fato, um ambiente de inclusão e respeito.
A proposta de Leila Pereira é uma forma de pressionar por mudanças significativas nas políticas de combate ao racismo. Para ela, a migração para a Concacaf poderia ser uma solução para que os clubes brasileiros encontrassem um novo espaço de respeito e seriedade no tratamento de casos de discriminação.
O Impacto Financeiro e Competitivo
Além do aspecto moral, Leila Pereira destacou que a mudança para a Concacaf também poderia trazer benefícios financeiros para os clubes brasileiros. A Confederação Norte-Americana tem crescido em termos de relevância no cenário mundial do futebol e a presença de clubes brasileiros poderia fortalecer ainda mais a competição. Além disso, a migração para a Concacaf abriria portas para novas fontes de receita, aumentando as oportunidades de patrocinadores e competições internacionais.
Essa mudança, porém, também traria desafios. Os clubes teriam que adaptar suas rotinas, suas rivalidades e a forma de disputa das competições, já que a Concacaf tem um formato diferente da Conmebol. Mas, diante da insatisfação com o tratamento dado aos clubes brasileiros pela Conmebol, a proposta de Leila é vista por muitos como uma tentativa de trazer mais respeito e valorização para o futebol nacional.
O Papel da Conmebol e a Resposta aos Clubes Brasileiros
A Conmebol, por sua vez, tem se defendido das críticas, alegando que suas decisões seguem os regulamentos da entidade. No entanto, a falta de uma resposta mais firme aos casos de racismo é um ponto que continua a gerar debates intensos. Os clubes brasileiros, especialmente os de grande expressão como Palmeiras, Flamengo, São Paulo, entre outros, já demonstraram em diversas ocasiões sua insatisfação com a forma como a Conmebol lida com questões fora do campo, como o racismo, e dentro do campo, como a arbitragem e a organização das competições.
Leila Pereira, assim como outros dirigentes, acredita que a Conmebol precisa agir com mais firmeza e responsabilidade em relação ao racismo. A pressão de clubes como o Palmeiras pode ser o início de uma mudança importante, mas será necessário um esforço conjunto para que as reformas na estrutura da confederação sul-americana aconteçam.
