O Botafogo, que em 2024 escreveu uma das histórias mais bonitas do futebol brasileiro, viu sua jornada épica ser interrompida de forma inesperada nas quartas de final da Copa Intercontinental. A derrota por 3 a 0 para o Pachuca, no Catar, deixou um gostinho de "quase lá" e levantou a seguinte questão: o desgaste físico e emocional da longa temporada teria sido o fator decisivo para a eliminação?
O preço da glória
A temporada 2024 do Botafogo foi intensa. A conquista da Libertadores e do Campeonato Brasileiro exigiu um esforço físico e mental gigantesco dos atletas. A sequência de jogos, viagens e a pressão por resultados foram fatores que contribuíram para o desgaste do elenco.
- Viagem exaustiva: A viagem de 17 horas até o Catar, com um fuso horário de seis horas à frente, foi um dos desafios enfrentados pelos jogadores. O cansaço físico e a dificuldade em se adaptar ao novo fuso horário impactaram diretamente no desempenho da equipe.
- Avião "maldito": Sobrou até para o avião fretado pela diretoria alvinegra, usado pelo New England Patriots. Segundo Alexander Barboza, o conforto a bordo deixou a desejar, o que agravou o cansaço da viagem.
- Despedidas e incertezas: Além do desgaste físico, o emocional também pesou. A proximidade do fim da temporada e a incerteza sobre o futuro de alguns jogadores criaram um clima de despedida no vestiário, o que pode ter afetado a concentração da equipe.
O que dizem os jogadores do Botafogo
Os atletas do Botafogo foram unânimes em apontar o desgaste físico e emocional como os principais motivos para a eliminação. Igor Jesus, Alexander Barboza, Marlon Freitas, Júnior Santos, Gregore e John destacaram a dificuldade de manter o ritmo intenso durante toda a temporada e as consequências da longa viagem para o Catar.
Igor Jesus
Fizemos o máximo que podíamos. Sabíamos o quanto ia ser difícil sair de um jogo como o de domingo (contra o São Paulo), pegar voo de 16 horas, tem questão de fuso, a maioria dos jogadores não dormiu bem, mas isso não é desculpa. Estávamos um pouco esgotados, por tudo que vivemos nesses últimos meses. Mas é pegar esse tempo de férias, descansar a mente, para voltar da melhor forma no próximo ano. O Botafogo em todas as competições quer vencer. Mas em algum momento a mente quer ir e o corpo não consegue responder. Hoje aconteceu muito isso. Queríamos fazer algo a mais, o corpo não respondia. Faz parte, agora é descansar e se preparar para fazer ótima campanha no ano que vem. Fizemos uma grande campanha, um ano histórico, colocamos o clube à altura. O Botafogo há muito tempo não vencia títulos importantes como esse ano. Claro que esse jogo não vai apagar o que fizemos na temporada, que foi maravilhosa, todos os jogadores estão orgulhosos e de parabéns. Desde que cheguei, o Artur Jorge sempre mostrou ser um pai de todos os jogadores, tratou com dignidade, todos da mesma forma. Desde o começo nos abraçou de forma diferente, isso nos passa confiança, temos liberdade de fazer o que sabemos em campo. Todos viram o quanto faz diferença ter um treinador assim para fazer um ótimo trabalho.
Alexander Barboza
Chegamos com muita vontade de vencer, isso se viu, procuramos o jogo todo, mas lamentavelmente não deu certo. Não há corpo que aguente, é muito difícil. Não é desculpa, mas é muito difícil. Chegamos aqui há só dois dias, num horário completamente diferente, não conseguimos dormir. Acordei às 3h da manhã e não consegui dormir até a hora do jogo. O café da manhã era às 8h e havia gente às 6h da manhã lá embaixo porque não conseguiam dormir. É muito difícil. Um avião ruim, não conseguimos viajar da melhor maneira… Foram muitas coisas. Quando você joga esse tipo de torneios, são detalhes, detalhes que custam caro. E também num calendário difícil, com muitos jogos, muito pouco tempo, não só as pernas, o mental também… Foi um jogo difícil para caralho. A gente tentou, brigou, mas não conseguiu, mas de toda maneira foi um ano sonhado para nós.
Tenho que confraternizar com minha família, celebrar com eles. Toda minha família está me esperando na Argentina para fazer um churrasco, uma festa. A gente merece, porque trabalhamos muito. Concentramos sempre um dia antes do jogo, praticamente todos nem pisavam em casa direito. É tanto tempo junto com os jogadores que você considera uma família, e foi graças a isso que ganhamos os títulos. Ano que vem também vai ser difícil. Agora tem que relaxar, curtir, é difícil conseguir o que a gente conseguiu, tem que celebrar.
No vestiário ficamos um pouco tristes, porque tínhamos o sonho de poder levantar mais três taças. Infelizmente não foi possível. Acho que não há corpo que aguente. Foram muitos jogos, um atrás do outro, uma viagem de mais de 15 horas. Um avião que não era o melhor, um avião fraco. E isso pesou no jogo. A gente tentou. Tentamos jogar, tivemos situações de gol também, mas não deu certo. Só podemos agradecer pelo ano. Um ano glorioso, incrível, para todos nós. Para o torcedor, para o clube, para cada jogador.
Muitos jogadores não vão continuar aqui. Então é também agradecer a eles. Muitas despedidas. Muitas incertezas, porque são contratos que finalizam. Então… Uns já falaram que ficam ou não, a gente não sabe. Cada jogador tem um problema pessoal. Mas já houve muitos abraços, muito choro também. Porque é um grupo muito bom. Um grupo de gente boa, de verdade. E uma família que dificilmente continua assim ano que vem. Mas estamos juntos sempre. Na derrota e nas vitórias também.
Marlon Freitas
Não adianta virmos aqui falar que é o cansaço. Falhamos, tomamos um gol no comecinho do segundo tempo. Terminamos o primeiro tempo melhor, e depois no começo do segundo tempo tomamos um gol, aí você tem que correr atrás, fica mais exposto e eles aproveitaram bem os contra-ataques e mataram o jogo. Foi um grande ano, temos que sair com cabeça erguida pelo grande ano que a gente fez. Foram 75 jogos, isso mostra nosso profissionalismo, nosso caráter, lutamos até o final.
A gente fica triste, nosso grupo está chateado, porque vale taça e sempre quando vale taça a gente quer vencer. Queríamos vencer para dar continuidade na competição. É sair de cabeça erguida, aproveitar bem as férias com os nossos familiares e só agradecer a Deus.
Júnior Santos
Passamos por várias dificuldades, tivemos que superar. Foi o jogo da final (da Libertadores), depois o Internacional, não deu tempo para comemorar, jogo com o São Paulo, viajamos logo em seguida, chegamos no Catar de madrugada, fizemos um treino e o jogo. O time está de parabéns por tudo que fez na temporada, pelos títulos que conquistamos. Tem que ser valorizado o trabalho da equipe. Não tivemos muito tempo de adaptação, não é desculpa, queríamos vencer, era um sonho, não foi possível. Mas o grupo está de parabéns pela temporada. É agradecer a Deus pelo que vivemos e conquistamos na temporada.
Sabemos como é o futebol. O adversário conseguiu concluir as chances de gol, fez marcação forte. A gente vem jogando muitos jogos, hoje não conseguimos os gols. O adversário foi mais eficiente, futebol é isso. As coisas não aconteceram, é levantar a cabeça, ano que vem temos muita coisa para disputar.
Tivemos no vestiário algumas despedidas, nos emocionamos bastante, alguns jogadores que começaram no início do projeto, eu peguei um pouco do início também da reconstrução desse Botafogo. Eu senti a derrota, todos os jogadores sentiram, brincamos ali um pouco no final para descontrair, para nos alegrar, para que possamos lembrar que conseguimos um feito que até então só dois clubes haviam conseguido, algo que não é fácil.
Sonhávamos sim em jogar uma final de Mundial de Clubes e poder ser campeão, todos do Botafogo sonharam com isso, mas não foi possível. O grupo está de parabéns, é levantar a cabeça. Não devemos colocar desculpa, mas todos viram o contexto dos últimos jogos para que pudéssemos chegar aqui hoje.
Gregore
Teve o fuso horário, enfim, jogamos em menos de 48 horas. Isso também pesa, né? Hoje um futebol que é bastante competitivo. Independentemente de quem a gente joga, a gente precisa estar 100%. Acho que hoje a gente entrou com o mental 100%, mas acho que fisicamente a gente entrou um pouco abaixo. Mas, igual eu falei, é gratidão por todo esse ano. Acho que não temos que ficar encontrando desculpas, não. Mentalmente a gente queria ganhar, a gente veio com a mentalidade de ganhar e não foi possível ganhar. A gente queria chegar até a final, jogar contra o Real Madrid, mas infelizmente não conseguimos.
Savarino
Na verdade, não foi conversado. Eu acho que com a Almada não foi conversado tampouco, mas são decisões que o treinador toma. Viemos de fazer um jogo muito desgastante contra o São Paulo. Eu acho que todo o time estava cansado. Fizemos uma viagem de 16 horas, mais ou menos. Foi o total da viagem. Chegamos na madrugada. E aí ainda tem muitos jogadores que não conseguiram dormir direito. Mas, como sempre falamos, não são desculpas. Nós tínhamos que jogar da melhor maneira, não fizemos um bom jogo e perdemos.
John
O que pesa foi o finalzinho agora para a gente, né. Foi um final de muitas decisões, um final onde a gente teve que se desgastar bastante. Tem que colocar esse motivo em pauta, porque foi o final que a gente teve que dar um gás maior. Mas eu falo assim, muito feliz de chegar até aqui. Poucos chegam, a gente chegou. A gente queria ter ido mais longe. A gente sabe que podia ter ido mais longe, mas por conta do contexto também, que a gente não controla… Mas é hoje sair daqui de cabeça erguida, porque o ano que a gente fez é um ano maravilhoso, é um ano mágico, que vai ficar para a história de todo mundo..