A saída de Artur Jorge do Botafogo para o Al-Rayyan, do Catar, continua gerando debate e repercussão entre torcedores e especialistas do futebol. O treinador, que foi um dos principais responsáveis pelo retorno do clube aos títulos nacionais, deixou o cargo após apenas alguns meses de trabalho, em um movimento que causou surpresa e desconfiança. Jorge Iggor, narrador e comentarista esportivo, foi um dos que não economizaram críticas à postura do ex-treinador alvinegro.
O Título Inesperado do Botafogo e a Saída Repentina
Em abril de 2024, Artur Jorge chegou ao Botafogo em meio a grandes expectativas. O clube estava passando por uma reestruturação e precisava de um técnico capaz de conduzir o time a títulos e bons resultados. Em pouco tempo, o treinador conquistou a Libertadores e o Brasileirão, colocando fim a um jejum de 29 anos sem títulos nacionais. Para muitos, Artur Jorge parecia ser a peça chave para a reconstrução do Botafogo, mas sua saída, meses depois, pegou todos de surpresa.
Jorge Iggor foi um dos primeiros a criticar a forma como Artur Jorge lidou com a situação. Durante uma live em seu canal no YouTube, ele acusou o treinador de “forçar uma narrativa” e tentar jogar a torcida contra John Textor, proprietário do clube. Para Iggor, a postura de Artur Jorge foi um “papelão”. Segundo ele, o treinador não saiu com dignidade, ao invés disso, tentou criar um cenário onde a torcida se voltasse contra a diretoria, o que acabou não acontecendo.
Estamos falando de um treinador que chegou em abril, conquistou o maior título da história do Botafogo, tirou o Botafogo de um jejum de títulos nacionais de 29 anos, um clube com uma capacidade de investir, e que foi embora na primeira proposta. E não só foi embora, forçou toda uma narrativa, uma situação, cobrando valorização salarial, cobrando o aumento do salário, um salário que já era muito bom. Mas não tem nenhum problema você pleitear isso, você tentar melhorar o contrato que está em andamento. “Dá para dar uma melhoradinha aí? Você sabe como é, né? Acabei de ganhar dois títulos”. Mas existem as formas corretas de você fazer isso. O Artur Jorge tentou jogar a torcida do Botafogo contra o John Textor. Se o Artur Jorge quiser desmentir, se o empresário, o advogado, aí é problema deles. Quer desmentir, quer processar, faz o que quiser. Quando ele diz “a valorização não é só para os jogadores, é também para o treinador”, na véspera de uma decisão de Campeonato Brasileiro, o que ele queria era o seguinte, reações de “Pô, Textor, mão de vaca, hein? Valoriza o homem aí! Pô, sacanagem!” Só que ele não conseguiu, porque a torcida não comprou o barulho dele. A torcida percebeu desde o início qual era o discurso. Quer sair, irmão? Pode sair, não tem problema nenhum. Quer sair por uma proposta maior? Sai! Mas saia com cabeça erguida, saia com dignidade. O Artur Jorge não saiu do Botafogo com dignidade, pelo menos pegando toda essa linha do tempo aqui.
Iggor ainda mencionou que, enquanto a decisão de sair para ganhar mais dinheiro era legítima, a maneira como Artur Jorge lidou com a negociação deixou a desejar. O narrador destacou que, embora o aumento salarial fosse um motivo razoável para a mudança, a tentativa de manipular a opinião pública foi o que realmente causou a insatisfação.
Aí os rótulos vêm. “Ah, é traíra. Ah, é mercenário. Ah, é covarde”. Eu chamo isso tudo de profissionalismo, gente. Infelizmente, nessa hora, a gente tem que ser muito prático, muito pragmático, e deixar as emoções de lado, por mais que elas estejam presentes no futebol. Não dá para a gente querer que os agentes do futebol se comportem exatamente como o torcedor se comporta. Que a ligação desse cara com o clube seja a mesma que você, que vai para a arquibancada, tem. Não é e nunca será. Salvo raríssimas exceções. O normal é o cara que ganha 2x, recebeu a proposta para ganhar 4x e ir embora. Normal. O que eu discuto são as maneiras como você faz isso. A maneira que o Artur Jorge fez foi muito feia. Papelão. Quis jogar a torcida contra e se deu mal. Papelão. Agora vai ganhar o dinheiro dele no Catar. Mas a decisão de sair do Botafogo para sair para o Al-Rayyan para ganhar um caminhão de dinheiro, cara, faz sentido. Profissionalmente, como grana, como salário. A gente também tem que discutir as escolhas esportivas dos caras. Eu acho que ir para a Liga do Catar, se o Artur Jorge deseja se posicionar como um treinador de primeira prateleira, de grandes conquistas, de relevância, de estar sempre nos principais mercados, ir para o Catar arruina esse plano. Ele vai para uma liga que não tem o mínimo de competitividade, o mínimo de visibilidade, não tem nada, não tem respeito, não tem nada. Negócio horroroso. Não tem nem 2 mil pessoas no estádio para ver os jogos. Mas ele vai ganhar muito dinheiro. Aí você escolhe o que é mais importante para você e eu não faço conta com o dinheiro alheio. Mais importante é a grana, é a grana. “Ah, eu vou abrir mão de ganhar, sei lá, 40, 50% a mais do salário, mas eu vou ficar aqui onde eu já ganho muito bem, porque eu quero objetivos maiores, eu quero estar numa liga mais forte”. É uma decisão legítima também.
O Futebol e a Realidade do Dinheiro
Embora o debate sobre a moralidade e a ética de um treinador mudar de time com a promessa de um salário mais alto seja importante, Iggor destacou um ponto interessante: no futebol, muitas vezes, o que importa são os números. Quando se recebe uma proposta para dobrar o salário, é compreensível que muitos profissionais optem por aceitar. A questão levantada, no entanto, não é sobre a decisão em si, mas sobre as formas como ela é comunicada e a imagem pública que se tenta construir ao longo do processo.
No caso de Artur Jorge, Iggor acredita que ele falhou ao tentar pintar a saída como algo que fosse resultado de uma falta de reconhecimento por parte de John Textor. “Se você quer sair, saia, mas faça isso com dignidade. Não tente criar um enredo onde você é a vítima”, disse o narrador. Para ele, o treinador não conseguiu convencer a torcida de sua versão dos fatos e acabou sendo visto de forma negativa pela maioria dos torcedores alvinegros.
Apesar das críticas à sua postura, não há como negar que Artur Jorge fará uma mudança significativa na sua vida financeira. Ao se mudar para o Al-Rayyan, ele passará a ganhar um salário muito mais alto do que o que recebia no Brasil. No entanto, ao fazer essa escolha, o treinador também coloca sua carreira em um caminho onde a visibilidade e a competitividade serão muito menores, o que pode afetar sua reputação no cenário internacional do futebol.
Luís Castro: O Retorno Improvável
O nome de Luís Castro, ex-treinador do Botafogo, também voltou à tona durante esse período de incertezas no clube. Com a saída de Artur Jorge, muitos especularam sobre a possibilidade de Castro retornar ao time alvinegro. No entanto, as chances de isso acontecer são muito pequenas, principalmente por questões financeiras e de contrato.
Paulo Vinícius Coelho, comentarista esportivo, revelou em uma live que John Textor, dono do Botafogo, considera a ideia de trazer Castro de volta, mas o grande impeditivo seria a dívida do clube com o treinador português. O Botafogo ainda deve valores relacionados ao contrato de Luís Castro, que foi até o meio de 2023, o que dificulta um retorno imediato.
Além disso, durante a conversa com PVC, Luís Castro afirmou que, no momento, está focado em outras atividades, como palestras e eventos, e não pensa em retornar ao futebol. A situação financeira também pesa muito para essa decisão. Castro ainda tem um contrato com o Al-Nassr, da Arábia Saudita, e só pode rescindir esse vínculo se abrir mão de salários significativos, o que ele não está disposto a fazer.