Ex-treinador do Bota falou sobre sua saída e sobre construção da equipe
Luís Castro saiu do Botafogo no fim de junho 2023 e assinou contrado com o Al-Nassr, da Arábia Saudita. Em entrevista ao canal “Goat”, o treinador português falou sobre sua saída e diversos assuntos envolvendo o Glorioso.
Entrevista Luis Castro - Canal “Goat”
Luís Castro deu entrevista ao “Canal Goat” e que foi veiculada nesta segunda-feira (21/8),. O português falou de diversos assuntos envolvendo o Glorioso. Confira abaixo trechos.
Legado de Luis Castro no Botafogo
O mais importante é o espírito vencedor, não o espírito miserabilista que encontrei quando cheguei, de que éramos os coitadinhos, de que quando perdia um jogo parecia que havia perdido dez… A mentalidade tem que ser vencedora sempre. Queremos sempre mais, e essa mentalidade está instalada no Botafogo. Se formou um grupo muito forte, que se blindou, e tivemos que nos blindar. Quando disse que o Estadual tinha sido um momento fantástico para nós, eu sabia o que estava dizendo. Sabia a forma como fizemos o Estadual, como fomos agredidos, e a forma como nos blindamos. Aquela blindagem nunca vai ruir. É um grupo fantástico, não vai se deixar mexer por nada nem por ninguém.
Dificuldades que encontrou no clube
Quando cheguei no Botafogo, não tínhamos campo para treinar. Fomos à Aeronáutica, ao campo anexo do Nilton Santos, ao Lonier todo quebrado… Mas, pronto, construímos, em oito meses tínhamos um vestiário para todos os jogadores, em 15 dias deixamos de o almoço ser um sanduíche de carne para ser três pratos no refeitório, deixamos de tomar banho frio para tomar banho quente na sala onde eu me arrumava, deixei de ter os bichos lá dentro, passei a ter um lugar mais limpo. Construímos. Hoje é um clube credível, que o mundo olha com muito respeito e, embora nunca tenha perdido seu prestígio, seu prestígio ficou mais brilhante, sua estrela brilhou mais, seu fogo aumentou. Tudo com o trabalho de todos, não com o trabalho do Luís, mas da torcida, do estafe, de todos… Eu só propus algumas coisas e as pessoas agarraram e seguiram com elas.
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Medalha de campeão
Uma medalha para o Caçapa, uma medalha para o Luís Castro e três medalhas para o Bruno (Lage), acho que cabe bem (risos). Não sei se isso vai acontecer, mas… As medalhas das nossas vidas são muito mais daquilo que nós sentimos e pelo reconhecimento do que a medalha em si. O Botafogo sendo campeão como eu espero que seja esse ano, esse título que poderá conseguir tem muito, muito, muito da temporada passada. Ela foi decisiva para o que está acontecendo esse ano. Foi uma temporada de crescimento, de doutrinar muita gente lá dentro que estava sofrida, desconfiada, que não estava sendo respeitada durante muito tempo, porque é fácil maltratar quem está por baixo. Normalmente, as pessoas carregam o que é bom. Foi muito difícil virar isso ao contrário. As pessoas ficaram muito tempo sem receber, não tinham as condições necessárias e mudar essa mentalidade foi um trabalho enorme. Foi um trabalho maior do que montar uma equipe. Montar um elenco foi mais fácil do que fazer perceber às pessoas que tinham de pensar de outra forma para contagiar quem trabalhava dentro de campo no dia a dia. “Ah, mas tudo acontece ao Botafogo”, e eu falava: “Para com isso! Podem acontecer coisas boas também.” A vida é para ser vivida com alegria, foi essa alegria que colocamos no dia a dia do clube, essa energia positiva que fez dar a volta a tudo. Hoje é um clube de grande prestígio, vai ser campeão brasileiro, vai ser uma grande festa, merecem todos.
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Ofertas recusadas
Quando fui contratado pelo Botafogo, eu tinha o compromisso de construir uma organização, construir um elenco para uma equipe pronta a lutar por algo maior do que aquilo que existia quando cheguei. Esse algo maior era lutar por uma vaga na Libertadores e ser uma equipe que sempre fosse respeitada onde fosse jogar. Essa construção foi feita, aquilo que era meu compromisso com o clube em termos de projeto, eu o senti sólido, senti que tinha uma organização pronta para atacar qualquer adversário no Brasil. Houve várias propostas (para sair), o ano foi muito rico em propostas, foi muito visível. Nenhuma delas me fez deixar o Botafogo, achava que tinha algumas coisas a consolidar, mesmo na defesa, na transição da temporada tínhamos que consolidar e era importante fazê-lo. Depois de feito e de sentir, aí já se pode pensar em outras coisas.
Motivos da sua saída
O contrato prevê, aí podemos pensar. Isso não está em causa… Para mim, as coisas estão muito claras na minha cabeça. Eu vendo trabalho para minha empresa e tenho contrato assinado com a minha empresa. Se a sua empresar lhe quer por 30 milhões ou por 5 milhões… Desde que as alíneas sejam cumpridas, está tudo certo. Para mim, a vida é muito simples, muito pragmática, naquilo que é o trabalho, a relação laboral. Depois, tem o lado emocional. Eu me liguei emocionalmente muito ao Botafogo, continuo ligado emocionalmente, tenho lá muita gente que gosto muito e gosto muito do clube. Mas isso não invalida o que fui vendo, qual o momento da minha vida que estaria adequada minha saída ou não. Para essa proposta do Al-Nassr, que é um projeto pouco parecido com a do Botafogo, de construção de uma equipe, de uma organização, de nos estabilizarmos a equipe num nível alto, deitar o olho sobre a academia (base)… É exatamente um Botafogo com uma dimensão muito parecida. Tranquilo, não há dúvida alguma (de que o legado está lá). Podem dizer o que quiser, tenho a consciência tranquila do que foi meu papel no Botafogo. Fui mais um a trabalhar lá. Não quero falar mais do que já falei, é algo que me orgulha muito a passagem por um clube de tanto prestígio como o Botafogo. Durmo com a consciência tranquila.
Porque nós corremos atrás de dinheiro desde que nos conhecemos. Todos nós queremos sempre mais e mais. Até determinado momento da nossa vida. Depois, se conseguimos, como vendemos trabalho, começamos a valorizar outras coisas. A liga saudita é um bocado disso. Valorizamos estar onde estão os melhores do mundo. Quando senti que as coisas estavam feitas e bem feitas, que o Botafogo estava pronto para caminhar sem mim, procurei olhar para onde estivessem os melhores do mundo. Felizmente surgiu a oportunidade. Não é só o dinheiro, as pessoas insistem em dizer que é. Não me incomoda, porque sei que toda gente é assim. De uma forma hipócrita, as pessoas querem dizer que não. Quero as melhores condições para a minha vida, mas também vou pelos projetos. Optei pelo Botafogo e tinha outros clubes oferecendo mais. Portanto, não é só o dinheiro, é um conjunto de fatores. Ninguém quer todo o dinheiro do mundo, não é o que nos move. O que move é o desafio, é o prazer. Se caminharmos à luz do que é o dinheiro, quase toda gente vai no mesmo sentido. Se caminharmos na luz do reconhecimento e do prestígio, enxergamos o mundo de outra forma. Tento o equilíbrio entre uma coisa e outra. Estava no Qatar, a ganhar mais do que no Botafogo, fui pelo desafio. Disse ao presidente que havia um difícil à minha espera que eu gostaria de abraçar. Ele percebeu que não era o dinheiro a mover. Agora também perceberam.
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John Textor
John Textor é uma pessoa fantástica para liderar o Botafogo, entende o futebol, o dia a dia, os interesses dos clubes, pessoais, de treinadores, jogadores. Entendeu claramente o que estava a se passar comigo, percebeu que treinar, com grande respeito aos jogadores do Botafogo, Cristiano Ronaldo, Brozović, Mané, Fofana, Alex Telles, era um desafio interessante. Acho que eu merecia esse desafio. Depois de trabalhar na quarta divisão, de ter vendido caixas, de ter vendido publicidade, acho que merecia agarrar esse desafio. Mesmo o botafoguense mais forte de todos deve entender que eu tinha que agarrar este desafio. É uma questão pessoal. Saí da quarta divisão, vendi caixas em uma fábrica, trabalhava 14 horas por dia, vão perceber o que estou a dizer. Para mim, é uma caminhada longa. Cada um tem sua história, eu tenho a minha. Hoje, trabalhar com os melhores do mundo… Caminhei por mim, me agarrei ao meu trabalho, digno e honesto. Portanto, eu merecia. Não vou ser modesto. Eu merecia por tudo que representei como trabalho. O que mais quero na vida é ser uma referência de trabalho, consegui através do meu trabalho, quero ser uma esperança e uma luz aos que trabalham dedicados. Por isso, não podia deixar.
Futuro do Luis Castro no Al-Nassr
Não quero ser um só treinador que está focado na equipe A e não estenda os braços ao que é sua influência em todos os setores do clube. Confesso que gosto de organizar, controlar, implementar, depois desenvolver e tirar dividendos de tudo isso. É o que quero fazer mais uma vez. Procurei fazer no Botafogo, implementar essa organização, esse envolvimento, elevar de patamar, colocar uma mentalidade vencedora, em que ninguém esteja acomodado, queira ser melhor a cada dia. Mesmo nos momentos difíceis, que nunca vire a cara, esteja sempre pronto a seguir em frente, não tenha medo, não se deixe perturbar, seja determinado no dia a dia. É o que quero aqui. Consegui com todo estafe no Botafogo, é o quero construir aqui. No dia que sentir que está pronto, está feito, vou eu outra vez, para mais um desafio parecido que me vai aparecendo e que felizmente tenho me enquadrado.