Empresário confessa manipulação de jogos, cita grandes clubes e abala a credibilidade do esporte.

A CPI das Apostas está no centro das atenções do futebol brasileiro após o depoimento bombástico de um empresário que confessou ter manipulado jogos e lucrado milhões com esse esquema. As revelações abalaram o esporte e levantaram diversas questões sobre a integridade do futebol nacional. Neste artigo, vamos analisar as principais repercussões desse caso, as reações de personalidades do esporte e os próximos passos das investigações.

As Revelações Chocantes na CPI

Rogatto detalhou como funcionava o esquema de manipulação de jogos. Segundo ele, a operação era complexa e envolvia a compra de informações privilegiadas, suborno de jogadores e árbitros, e a manipulação de resultados. O empresário afirmou que os valores pagos para influenciar os jogos variavam, mas que eram suficientes para corromper até mesmo árbitros da FIFA.

"Um árbitro hoje ganha em torno de R$ 7 mil por jogo. Eu pagava R$ 50 mil para ele. Você não acha estranho um árbitro que vai para o VAR e ele dá um pênalti, mesmo com o VAR falando? Eu acabei de fazer um jogo na Colômbia, na primeira divisão, eu tenho aqui os vídeos dos dois árbitros que trabalharam para mim na Colômbia. O árbitro ganha pouco. O gatilho do futebol está na máfia, da federação e da CBF. Você acha que um árbitro, com a responsabilidade que tem, ganhar R$ 6 mil… É claro que eu vou chegar nele: ‘Marca um pênalti, dá cartão para fulano de tal e te dou R$ 50 mil’. Desculpa, mano! É tão simples. Não vê quem não vê. Eu não precisava estar falando aqui, é tão escancarado!", revelou Rogatto.

A Reação dos Políticos

Jorge Kajuru:

O futebol brasileiro vive seu maior escândalo da história a partir de agora. Supera a máfia da loteria esportiva, a Máfia do Apito, é um negócio impressionante. Se ele recebeu R$ 300 milhões até hoje, imagine os outros. É coisa de bilhões. Ele provou que é desde 2009, deu detalhes, falou jogos, relatou nomes… Foi um réu confesso. E disse que não é um dos maiores empresários no que tange a manipulação, é apenas um lambari, não é um tubarão.

Ele falou de times grandes, daquele jogo Palmeiras 5×0 São Paulo, disse ter provas de que naquele jogo houve manipulação, jogadores que se venderam, jogadores do São Paulo, que ganham muito bem. Falou que não põe a mão no fogo pela presidente do Palmeiras [Leila Pereira], não põe a mão no fogo pelo presidente do São Paulo [Julio Casares], mas põe a mão no fogo pelo John Textor, do Botafogo, em relação às declarações que ele começou a fazer sobre esse assunto.

Eu e Romário vamos a Lisboa, ele vai nos receber e oferecer para nós provas documentais e gravações de áudio e de vídeo. Ele disse apenas que não tem como nos entregar os tubarões, os grandões, porque tem medo de ser assassinado. Vai contar um monte de coisas importantes para a nossa CPI. Ele falou inclusive do [Lucas] Paquetá, deu detalhes, para ele o Paquetá está realmente envolvido, juntamente com a família dele. Ele tem que nos provar. Do contrário, fica apenas em indícios e não provas. E aí sim começar para valer, convocar essas pessoas e apresentar um relatório final. Com a repercussão da CPI ontem, os ministérios, tanto o da Fazenda como o dos Esportes, decidiram solicitar à Polícia Federal que investigue cada declaração dele.

Romário:

Farei o que for preciso e irei onde for necessário para devolver a dignidade ao nosso futebol. A reunião da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas de ontem foi destaque nos veículos de comunicação, e trouxe as declarações reveladoras de William Rogatto, que confessou manipular partidas em todo o país, envolvendo federações, clubes e árbitros.

Foi por um requerimento meu que Rogatto foi convocado, e as revelações feitas por ele apenas reforçam a importância da CPI. Nosso futebol, tão amado e respeitado pelo povo brasileiro, não pode ser alvo de um esquema sujo como esse. Estou comprometido a buscar Justiça e fazer o que for necessário para garantir que os responsáveis sejam punidos e que o futebol brasileiro recupere sua integridade. O trabalho continua!

A Imprensa Opina 

  • Juca Kfouri: "Tomara que William Rogatto tenha as provas que ele diz ter em Portugal. Porque, por enquanto, ele parece apenas fazer o papel de bufão que a caricata CPI das Apostas precisava em busca de alguma repercussão. A primeira publicidade conseguiu em inglês. Sem provas. A segunda vem em péssimo português e com ares de mitomania (...) Corrupção no futebol brasileiro existe há décadas e basta verificar os prontuários de Havelange/Teixeira/Marin/Nero, para ficar apenas entre ex-presidentes da CBD/CBF. A diferença, ao menos por enquanto, é que não faltam provas sobre o quarteto, ao contrário do que se vê nas denúncias da dupla aparentemente leviana ouvida na CPI para causar."

 

  • Arnaldo Ribeiro: "Primeiro, tem CPI para investigar as bets, né? Na verdade, são objetos, eles podem ou não estar interligados. E aí o terreno fica vastíssimo. Uma coisa são apostas esportivas, bets, a outra é manipulação de resultados. Elas podem até estar conversando, como quis dizer ou mostrar a nossa testemunha ilustre, né? Mas não necessariamente. E nessa tentativa de abraçar o mundo nessa CPI do esporte, eu acho que ela se perdeu desde o início. Ela não conseguiu focar nem na manipulação de resultados eventual e nem na questão das apostas esportivas bets (...) E o que mais me dá desgosto é que, no comando dessa CPI, existem duas pessoas que militavam no futebol, que em tese dariam credibilidade para tudo. O Jorge Kajuru, que foi também jornalista esportivo, e o Romário, que jogou bola. Casagrande pegou São Paulo e Palmeiras como exemplo, inclusive na relação de como um jogador ou um grupo de jogadores não entregariam um jogo clássico e tudo mais, eu até estava prestando muita atenção porque, quando esse jogo especificamente foi analisado, e foi algumas vezes, primeiro pela inteligência artificial do John Textor, que apontou até frango do goleiro num pênalti. Acho que, assim, nesse aspecto, nesse caso específico, talvez seja o jogo que tenha mais elementos e jogadores acusados e tudo mais, e agora numa segunda onda, com esse cara aí. Eles, eu acho, os clubes e os jogadores especificamente, eles têm que tomar uma atitude mais incisiva do que simplesmente… Porque, de novo, o nome deles está exposto numa situação dessa, de acusação até agora leviana. Então, o que aí, de novo, acontece neste momento, aí a temporada, aí você junta o último aspecto nessa pizza toda (...) Aparece aí mais um vídeo pra gente discutir aqui. Eu também acho, até agora, pra mim, não passou de leviandade. O depoimento do cidadão, pra mim, é risível. E é um escárnio, é mais do que isso. É um escárnio. É, de novo, um tapa na cara da sociedade. E, até agora, eu, sinceramente, não consegui unir o que essa CPI tenta desesperadamente, a questão das apostas e das bets com a manipulação de resultados. De novo, vou insistir. Elas podem até conversar, desde que você tenha provas, mas são coisas, em tese, independentes que acontecem no mundo do futebol ou dos esportes. E essa CPI tenta abraçar tudo de uma vez só. E, pra mim, não consegue avançar uma casa."

  • Danilo Lavieri: "O que eu ouvi sobre tudo isso no Palmeiras, a frase foi, não vamos bater mais palma para maluco dançar. Porque o Palmeiras, basicamente, entende que o cara falou de novo, repetiu o expediente que já tem sido praticado nos últimos tempos, de falar um monte de coisa sem absolutamente nenhuma prova. Simplesmente, ele chegou ainda a falar, “é opinião, vocês querem minha opinião? Ah, não, é, porque eu faço isso, porque eu ganho dinheiro assim, porque jogador não fecha a boca, porque…” Um monte de coisa, basicamente, sem nenhuma prova. E que qualquer um pode chegar ali e falar. Originalmente, a gente deveria acreditar mais porque está numa CPI, mas a gente já tem provas históricas de tantas CPIs que não dão em nada, que não têm argumento nenhum, que só gastam dinheiro público e que não servem para nada. Então, a gente sabe que CPI não significa absolutamente nada nesse sentido (...) Então, o Palmeiras vai ficar quieto, vai deixar parado, porque entende que não tem para que ficar comentando cada caso. Comentou já bastante o caso do Textor, que é parecido, que o Textor foi e fez acusações sem provas, baseado apenas num relatório que não diz nada. E nesse caso, é a mesma coisa. O cara chegou lá e falou “ah não, eu recebo dinheiro, eu tenho isso, eu tenho aquilo”, sem prova nenhuma (...) Como disse o PVC, eu também estava conversando com o Marinho, que é nosso anjo da guarda, produtor, diretor, depende de como é o termo que você quer usar, mas eu tenho até dúvida do quanto a gente deveria, como imprensa, ficar repercutindo esse cara, porque eu não sei até que ponto isso agrega na discussão. Não é uma crítica aqui ao programa nem nada, mas é porque realmente é o cara que chega ali e fala. Tudo de uma forma que, e aí? Se eu chegar, e se você falar, e se outro falar, não tem prova. Não adianta a gente ficar repercutindo algo sem prova, que vai manchar a imagem do Palmeiras, a imagem do São Paulo, a imagem dos jogadores, a imagem do Brasileirão, sem prova nenhuma."

 

  • Casagrande: "Aqui no Brasil, depois que um candidato a prefeito expõe um laudo falso assinado por um médico que já faleceu para tentar desmoralizar, desqualificar, diminuir um outro candidato e não acontece nada, qualquer um pode ir na TV e falar o que quiser dizendo que é só opinião. Então, eu vou dar a minha opinião. A parte do Palmeiras e do São Paulo eu acho mentira, conversa furada. Eu joguei futebol, eu joguei no São Paulo, no Corinthians… Cara, sabe quando jogadores de um time e de outro vão se vender para tomar uma goleada do adversário? Sabe quando vai acontecer isso? Absurdo qualquer jogador de Palmeiras, de Corinthians, de Santos, de São Paulo se vender para tomar uma goleada do rival sabendo das consequências que existem. Sendo que ganham muito bem. Não vale a pena um jogador num clássico desse se vender por causa de sei quantos milhões se sabe que o resto da consequência disso é pesadíssimo (...) É inadmissível uma pessoa ir numa CPI, fazer acusações desses tamanhos sem uma prova, sem mostrar nada. Ele acusa jogadores do São Paulo, do Palmeiras também, acusa o São Paulo Futebol Clube e a Sociedade Esportiva Palmeiras, sem mostrar uma prova. Acho isso uma irresponsabilidade para quem dá corda para isso daí. Tem todo o direito de acusar, mas chega com provas. Enquanto não mostrar nada, não tem que dar corda para nenhum desses caras (...)  Eu não acredito nesse cara. Como não acredito no Textor também. Já falei mil vezes. Inteligência artificial agora, por enquanto não aconteceu nada de errado, o Botafogo está em primeiro. Vamos ver quando jogar Palmeiras x Botafogo. Se o Palmeiras ganhar vai surgir inteligência artificial novamente? O Botafogo tem um timaço, estou torcendo para que seja campeão, merece ser campeão, gosto da história do Botafogo, já falei mil vezes, mas, cara, para falar coisa grave você tem que provar (...) O Textor pode ter razão, desde que dê provas. Esse cara que falou aí pode ter razão, desde que mostre provas. Porque ficar acusando as pessoas e acusando clubes sem prova nenhuma e nada acontecer vira uma uma baderna. Esse depoimento parece um podcast… O cara vai no podcast, fala umas coisas, fala umas barbaridades e aí começa a ter cliques, começa a aumentar seguidores, começa a virar famoso de uma hora para outra. Eu nem sei quem é esse cara, nunca ouvi falar nele."

  • PVC: "Ele prestou um depoimento orgulhoso de ter rebaixado 42 times manipulando resultados e enganando dirigentes que contratavam jogadores corruptos sob sua orientação. Importante o adjetivo: orgulhoso. Mas não há confirmação sobre sua declaração. Também não há confirmação sobre sua opinião de que houve manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2023. Há confirmação e 17 denunciados pelo Ministério Público de Goiás, o único trabalho sério feito no Brasil até este momento. William Pereira Rogatto é uma espécie de Pablo Marçal da manipulação de resultados. O candidato a prefeito de São Paulo entrou na eleição com todos sabendo de sua condenação por participação numa quadrilha de golpes bancários pelo celular. A menos de 48 horas da eleição, confessou ter distribuído um documento falsificado, para caluniar um candidato opositor. Mesmo assim, o esboço de cidadão teve 1,7 milhão de votos! A cidade de São Paulo quase levou ao segundo turno um mentiroso e golpista (...) O cara fugiu para Portugal, deu um depoimento por vídeo, não dá as caras e merece manchetes. Quando o Brasil virou este país que dá mais crédito a bandidos do que a quem paga impostos? (...) Enquanto isso, nos Estados Unidos, um dirigente brasileiro se prepara para o furacão sem entender por que se dá mais atenção ao pagamento feito a Luiz Henrique, do Botafogo, do que a Caio Paulista, Beraldo, Rafinha e Gabriel Neves. Ora, é óbvio. Porque há um comprovante de Pix na conta de Luiz Henrique, depósito feito pelo tio de Lucas Paquetá, Bruno Tolentino, que admite ter ganhado dinheiro com apostas em jogos em que Paquetá e Luiz Henrique atuaram. Só por isso."

A Posição de Entidades 

Confira a nota da Abrafut sobre o caso:

Ontem, terça feira do dia 08 de outubro de 2024, na CPI da Manipulaçao de Jogos no Senado, um depoente, o empresário do ramo das apostas, William Rogatto, afirmou que já ganhou um valor expressivo nesse esquema.

William disse ter atuado no futebol do Brasil dentre outros nove países.

Rogatto fez sérias acusações envolvendo a arbitragem, em que ele sugere que diante ao valor da taxa que os árbitros recebem por jogo, que segundo ele é pouco, acaba sendo um facilitador. O empresário realmente fala de valores, porém valores que ele tem como pessoa, que só dizem sobre ele, a respeito dele. Nessa declaração ele sugere que todas as pessoas que não têm grandes salários são sucetíveis [sic] a corrupção.

Somos árbitros, somos limpos, honestos, íntegros e desenvolvemos nosso trabalho dentro e fora de campo com idoneidade e compromisso com a correção e a verdade.

Não vamos admitir de forma alguma que qualquer pessoa, de qualquer segmento ou escala da sociedade, nos faça uma acusação desse nível, comprometendo nossa honra e caráter. Temos família, filhos, cônjuges, pai, mãe, que sofrem assistindo a um cenário tão deplorável com esse tipo de denúncia falsa e leviana.

Não ficaremos silenciados diante desse contexto perante uma declaração tão irresponsável, inconsistente e absurda como essa.

Contamos com o compromisso político, social e imparcial do Senado, para agir com verdade e seriedade juntamente com a polícia e apurar todos os fatos relatados pelo William, principalmente se tratando de um réu confesso.

E a esse Senhor, William Rogatto, a ABRAFUT exige que ele prove na justiça todas as suas sérias acusações.

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