Flamengo e Botafogo acirram o debate sobre a necessidade de um controle mais rígido dos gastos nos clubes.
A goleada histórica do Botafogo sobre o Flamengo por 4 a 1 não foi apenas um resultado surpreendente dentro de campo. A partida acendeu um debate acalorado nos bastidores do futebol brasileiro: os dirigentes rubro-negros exigindo a necessidade de um fair play financeiro mais rígido. Presidentes e dirigentes dos principais clubes do país, especialmente os cariocas, entraram em campo para defender a implementação de regras mais claras e eficazes para controlar os gastos e evitar desequilíbrios na competição.
Flamengo Clama por Fair Play Financeiro
Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, foi um dos primeiros a manifestar sobre falta de controle financeiro no futebol brasileiro. Em entrevista ao "Flow Podcast", o dirigente defendeu a necessidade de uma regulamentação global, com a intervenção da FIFA. Segundo Landim, a formação de grupos transnacionais, com clubes em diferentes países, facilita a burla das regras existentes e prejudica a competitividade.
Eu acho que é necessário e, falando sinceramente, o fair play financeiro hoje precisa ser regulado a nível de Fifa. Eu vou explicar por quê. Estamos vendo é que os clubes hoje estão se formando grupos transnacionais. O sujeito compra um clube na Espanha, outro clube na França, outro clube nos Estados Unidos, compra em outro lugar, e aí é o seguinte… O sujeito injeta dinheiro numa companhia, que ela é acionista controladora de todos esses clubes em diversos locais e, por exemplo, existem ligas que tem fair play financeiro, que controlam a capacidade de investimento de um clube. Aqui no Brasil não temos isso, meu amigo John Textor vai ficar aborrecido mais uma vez porque eu vou ter que falar isso aqui. O Botafogo acho que o ano passado teve lá no seu balanço R$ 330 milhões de receita. Tudo que ele gerou de dinheiro, R$ 330 milhões, ele investiu provavelmente R$ 500 milhões esse ano. R$ 330 milhões é pra pagar todas as despesas dele, está certo, então se sobrar alguma coisa é isso e está bom, ele pega e investe R$ 550 milhões. Como é que você faz? Como é que alguém que tem R$ 300 milhões de receita pode investir R$ 500 milhões? Então assim, só para explicar, uma preocupação primeiro é que amanhã um Sheik pode definir que um time aqui vai ser campeão brasileiro.
O que mais me preocupa no fair play é que, por exemplo, na liga francesa você tem um limite de capacidade de investimento. Vamos supor que você pegue um jogador que compra por 30 milhões de euros e você faz cinco anos de contrato. Ao final de cinco anos, você perdeu 30 milhões de euros porque o jogador sai livre, com passe livre. Vamos supor que um clube aqui onde não tem fair play financeiro pode investir o que quiser, compra um jogador por 30 milhões de euros, ele passa aqui seis meses ou um ano como barriga de aluguel e aí você empresta para um clube co-irmão do mesmo grupo de graça. O que que vai acontecer? Este clube aqui vai ter um prejuízo do tamanho do investimento que fez e este outro clube vai ter um jogador caríssimo para poder jogar por ele sem pagar nada. Isso é uma maneira de burlar o fair play financeiro que existe em algumas ligas. Essa é a razão pela qual eu acredito que essa discussão de fair play financeiro, que faz sentido em ligas e as ligas já controlam, vai precisar subir de patamar e vai precisar ser discutida a nível de Fifa. E eu já numa conversa que eu tive com o secretário geral da Fifa, que é um cara que tem uma cabeça muito boa financeira e tudo, eu já estou provocando ele em relação a isso. Acho que a Fifa vai precisar começar a entrar nesse tipo de discussão porque fica muito fácil principalmente em ligas onde isto não existe de praticar esse tipo de malandragem, vamos dizer.
Por outro lado, acho que a gente precisa melhorar a qualidade do futebol brasileiro como um todo para poder valorizar o nosso futebol e poder vender. Então, por outro lado, gosto quando vejo investimento no futebol brasileiro porque isto aumenta o nível de competição. Para o Flamengo, competitivamente, pode ser ruim, mas para o futebol brasileiro é bom porque a gente passa a ter um campeonato mais interessante.
O vice-presidente do Flamengo e candidato à presidência, Rodrigo Dunshee de Abranches, também se posicionou a favor do fair play financeiro. Em entrevista ao "Charla Podcast", o dirigente pediu a criação de uma lei específica para regular os gastos dos clubes e evitar que empresários utilizem seus times como "barriga de aluguel" para outros clubes do mesmo grupo.
A gente tem que fazer um movimento legal, né? Um movimento com os deputados e senadores para proteger o futebol brasileiro. Porque, assim, tem que ter fair play financeiro, tem que vir por lei. Tem que ter a obrigação de ter o fair play financeiro para proteger o futebol. Hoje não há lei. Tem lei para tudo, tem que ter para isso também. Porque não pode chegar qualquer um aqui… Por exemplo, vamos dar o exemplo do Textor. Ele tem um faturamento de R$ 350 milhões por ano e gastou R$ 550 com jogador. Isso é brincadeira. E depois ele pode usar o clube dele como barriga de aluguel para os outros clubes que ele tem. Emprestando jogador. Se ele traz um jogador por 30 milhões de euros, bota aqui, porque aqui não tem fair play financeiro, empresta para lá baratinho e viola o fair play financeiro de lá, porque aqui não tem… Então, assim, a gente tem que proteger o futebol brasileiro. Tem que ter regra, tem que proibir esse tipo de coisa.
Tem que proibir o cara faturar 350 (milhões) e investir 550 (milhões). Porque, assim, ele está tendo problema no Lyon. Com todo respeito a ele, o Landim (presidente do Flamengo) adora ele e tal, mas com todo respeito, está tendo problema no Lyon porque lá tem regra. E a gente aqui não tem regra.
Eu faço até um apelo. Estamos trabalhando com os deputados e senadores para mexer com isso. Os grandes clubes do Brasil têm interesse nisso. Assim, a Libra tem interesse nisso, que é a Liga do Futebol Brasileiro, que é o grupo dos maiores aqui. Tem interesse em fazer um movimento pró fair play financeiro.