Discussões intensificam-se entre grandes clubes e especialistas sobre a implementação do fair play financeiro no Brasil
Em meio a intensos debates e polêmicas, o conceito de fair play financeiro ganha destaque no cenário do futebol brasileiro. Recentemente, figuras proeminentes como Joza Novalis, John Textor, e líderes de grandes clubes, têm levantado questões sobre a necessidade e a eficácia de tais regulamentações, sugerindo um momento decisivo para o futuro financeiro dos clubes nacionais.
O Papel de Joza Novalis e a Crítica ao Movimento pelo Fair Play Financeiro
Joza Novalis, analista de futebol conhecido por suas opiniões fortes, criticou abertamente uma reunião entre clubes que discutiu a possibilidade de implementar o fair play financeiro no Brasil. Novalis argumenta que essa movimentação poderia, paradoxalmente, não visar a melhoria do futebol brasileiro, mas sim conter o crescimento de clubes em ascensão, como o Botafogo sob a gestão de John Textor.
A Comissão Nacional de Clubes e a CBF fizeram uma reunião nessa segunda-feira, iniciando um debate para a implementação do fair play financeiro a partir do ano que vem, claramente que não vai ser agora, porque agora Inês já está morta, né. E aí, vejam vocês, dentro das equipes que lá estavam, olha só os times que participaram da reunião. Fluminense, que quando pode, contrata, quando não pode, contrata também. São Paulo, Fortaleza, que eu acho que tem motivos para fazer essas reclamações, sim, mas também precisa entender onde está pisando. Internacional, logo tu, Inter. Internacional, é isso mesmo. Contratou à vontade, contratou um monte de gente, contratou, foi a rodo, querendo estabelecer um debate sobre fair play financeiro no futebol brasileiro. O Vasco da Gama, que está mais pra lá do que pra cá, com uma situação muito difícil, o Vasco com esses debates estranhos aí. Bom, o Vasco, evidentemente, que, neste momento, é uma equipe que não tem tanta condição financeira como outras, mas o curioso disso é que quando também pode contratar, contrata à vontade, nunca teve debate sobre fair play.
E aí, os dois aqui que chocam, Palmeiras, quando também pode contratar, contrata à vontade, não está nem aí, não se preocupa nem um pouco em contratar, fazer grandes contratações, quando pode, quando quer. Hoje, nem contrata tanto porque nem sempre precisa e também porque a pegada é outra, na verdade, contratar jovens jogadores, não gastar muito, até porque tem uma canteira espetacular, mas quando também precisou gastar, na história, gastou, formou grandes equipes, enfim, agora também quer debater fair play no futebol brasileiro. E o mais sujo de todos, o Flamengo, aí é de doer. Aí realmente é de doer a alma. Acho que até como uma vergonha alheia, acho que é um pouco isso daí, porque, olha, é terrível o negócio de o Flamengo estabelecer debate sobre fair play no futebol brasileiro.
De onde vem evidentemente todo esse movimento aí para querer estabelecer fair play no futebol brasileiro? Vem do sucesso do Botafogo. Estão aqui, ó, com o Botafogo, estão tentando engolir, mas não estão conseguindo. Então, em virtude do sucesso do Glorioso, querem e tal. É difícil acharem um ponto para criticar, então, vão pegar esse ponto onde? Vão pegar no Textor, vão caçar o Textor. Tudo que ele falar de errado, enfim, é este o ponto. Então, essa questão do fair play é de uma hipocrisia muito grande.
O problema do fair play financeiro é que a sua existência está permeada pela existência em tese de uma injustiça no futebol. Condições que não são iguais para todos. Ora, esse tipo de violência sempre aconteceu no futebol brasileiro. Então, eu acho que esse debate pode ser muito interessante. Acho que podemos sim estabelecer um debate sério sobre o fair play financeiro, nessa perspectiva de que ele funciona como uma injustiça que faz parte do futebol aqui no Brasil. Mas vamos debater outras injustiças também? Por que a gente não tem vontade de debater todas elas também? Por que a gente quer fazer um debate sobre o fair play financeiro? Porque, em teoria, estamos preocupados com a justiça no futebol, com a democracia. Não estão preocupados com nada, coisa nenhuma. Estão preocupados, na verdade, com o Botafogo, entendeu? Não querem que o Botafogo trilhe esse sucesso aí. Não querem que o Botafogo conquiste. Este é o ponto. Não tem nada a ver com a necessidade de colocar a justiça no futebol brasileiro, democratizar as forças no futebol brasileiro e tudo mais e tal. Não há nenhuma preocupação com o final das injustiças no futebol brasileiro. A grande preocupação aqui é o seguinte, tem um clube que está crescendo muito. Não querem que ele cresça. Este clube é o Botafogo. Só que eles vão ter que fazer sabe o quê, gente? Vão ter que engolir. É isso.
Economistas Defendem Investimentos Iniciais Fortes Como Estratégicos
Cesar Grafietti, economista citado por John Textor, sustenta que investimentos substanciais são essenciais, especialmente para clubes que enfrentam dificuldades financeiras severas. Ele menciona que até mesmo as normas de fair play financeiro da UEFA permitem tais aportes iniciais para estabilizar os clubes.
Sempre que alguém compra uma empresa que está em dificuldades, tem que reformar. É natural que, em um primeiro momento, faça isso, um grande aporte. Todo mundo tem que entender isso. Mas ninguém tem bolso infinito. Ninguém vai botar R$ 300 ou R$ 400 milhões todo ano. Não tem bolso sem fundo. Em um primeiro momento é normal que se faça reforço de caixa.
Na Uefa os clubes são autorizados a ter 60 milhões de euros de prejuízo na soma de três anos. Mas a Uefa autoriza que cada clube tenha até 90 milhões de prejuízo, se tiver aporte de um acionista.
Fazer uma comparação do Botafogo em qualquer modelo europeu é irreal. Por exemplo: o modelo da Uefa faz a conta usando prejuízos acumulados de três anos. A SAF do Botafogo vai finalizar o segundo ano agora. No ano passado o Botafogo estourou. Neste ano não sabemos. O dirigente fala aquilo que a torcida quer. Para tentar abordar esse ponto seria importante mostrar se a receita subiu. O Botafogo teria que mostrar a renda a cada seis meses, mas falta transparência. Fazer essa comparação é irreal.
A Visão dos Colunistas e a Repercussão no Brasil
Gustavo Poli, colunista de "O Globo", sugere que a questão do fair play financeiro no Brasil não surge de um súbito interesse pela ética ou pela gestão responsável, mas de um desconforto específico com o Botafogo e as ações de Textor. Esta perspectiva revela uma possível resistência cultural à mudança e ao desenvolvimento no futebol brasileiro, refletindo desafios mais amplos dentro do esporte.
Vamos remover o bode hipócrita da sala. O Brasil não está falando de fair play financeiro porque teve um acesso súbito de ética. Ou de preocupação com gestão e saúde dos clubes. O problema é o Botafogo — e o algo misterioso modelo de negócio de John Textor.
Muitos que hoje gritam nunca se preocuparam com contas em dia. Quase todo clube brasileiro já ganhou títulos endividado e pendurando a conta. Palmeiras e Flamengo têm méritos inequívocos de gestão e, de certo modo, plantaram a boa semente que forçou a concorrência a buscar soluções. A lei das SAFs apresentou um caminho para que entidades falidas atraíssem investidores. Botafogo, Vasco, Atlético-MG e Cruzeiro se agarraram a essa tábua. Mas aí um gringo resolve botar dinheiro grande e trazer talento pra cá… e o desequilíbrio vira problema? Antes não era?
Alguém que se disponha a encarar uma dívida de R$ 1 bilhão… deve ter uma estratégia para faturar lá na frente. Podemos questionar qual é essa estratégia. A torcida do Botafogo, especialmente, deve se perguntar qual a lógica de uma operação deficitária que ainda não construiu uma academia. Mas… a súbita indignação com a grana de Textor soa quase oportunista.
Hipocrisia à parte, a discussão é bem-vinda. Governança é uma necessidade. Regras claras que impeçam abusos também. Mas, além disso, a questão é que futebol queremos para o futuro? Um que emule um modelo em que os mesmos ganham quase sempre… ou algo mais parecido com as ligas americanas em que o teto salarial equilibra a competição? É uma pergunta que soa quase romântica na selva brasileira.
Polêmica entre Clubes: O Caso de Pedrinho e John Textor
O confronto entre John Textor e Pedrinho, presidente do Vasco, destaca as tensões pessoais e institucionais que o debate sobre o fair play financeiro pode exacerbar. Pedrinho defende que sua posição nunca foi discutida publicamente, evidenciando a complexidade das relações entre os clubes e seus dirigentes.
Da minha parte, não [é treta]. É bom deixar claro. Primeiro, a CNC é um Conselho Nacional de Clubes. É um órgão consultivo para levar sugestões para a CBF, não para tomar decisões. Ela leva sugestões para a CBF, e a CBF toma as decisões. O que as pessoas não entendem é que o Vasco não vai ficar fora, enquanto eu for presidente, de nenhum debate sobre futebol.
Essas reuniões são mensais, e ali se debate diversos aspectos. Logística, calendário, fair play financeiro, como foi conversado… Era um dos temas. Ninguém foi ali para falar sobre o fair play financeiro. Todo mês tem essa reunião. E o Vasco vai ser representado sempre, em qualquer lugar. O Vasco não foi lá para falar de fair play financeiro. O Vasco faz parte desse órgão consultivo para levar sugestões para a CBF. Como é que eu, como presidente, não vou mandar ninguém? Vai. Todos os debates sobre futebol o Vasco vai. O Vasco tem representatividade hoje.
Me assustou muito a questão do Textor falar, porque você não vai pegar uma entrevista minha sobre fair play financeiro. Eu nunca falei sobre isso, ainda mais do Botafogo. Nunca falei, apesar de ter minha opinião. O que eu fiquei assustado é ele falar sobre isso, porque o Vasco estava presente, ele citar meu nome, falando como se eu tivesse falado algo. Eu nunca falei.
Existe uma diferença muito grande, e eu percebo nesses embates recentes… O Textor defende SAF. Eu não sou contra o SAF e não vou ser. Eu defendo o Vasco. Ele tem que defender o Botafogo. Ele tem que se preocupar com o Botafogo, ele não tem que se preocupar com o Vasco. Ele tem que defender muito mais o Botafogo instituição do que a SAF, apesar dos dois estarem conectados. Eu vou defender o Vasco sempre. Eu não sei porque ele está implicando comigo. Não sei o que ele quer comigo ou com o Vasco.
Enquanto eu for o presidente, todas as vezes que ele me citar ou citar o Vasco, ele vai ter uma resposta à altura. Primeiro, porque ele mentiu. Eu nunca estive presente. Mandei o representante e mandarei sempre, que for para falar de futebol. O assunto não era especificamente fair play financeiro e o representante do Vasco não foi lá para isso, não foi lá para questionar o fair play financeiro em cima das contratações do Botafogo. Eu nunca falei sobre fair play financeiro, ainda mais direcionado ao Botafogo.
Na entrevista que eu respondi ao Textor, eu falei que o trabalho é excelente. E eu acho isso muito legal, faz com que os outros clubes comecem a trabalhar muito mais para gerar receita e também fazer grandes contratações, porque você eleva o nível técnico, você não joga para baixo, você joga para cima. Não me incomoda em nada ver o Botafogo desempenhando e com grandes jogadores. Agora, ele não pode mentir. Inclusive, no negócio da 777, que ele me pediu desculpas, porque ele não sabe nem o que ele está falando. Ele não sabe de 1% do que acontece aqui dentro de São Januário. Ele não tem moral para falar do Vasco.
Você pode criar um fair play financeiro com diversos aspectos diferentes. O óbvio é você estar com os seus salários um dia, honrando a sua folha salarial, comissão de empresários, e as dívidas que você fez acordo e estar cumprindo. Partindo desse princípio, o que você gera de receita, o que você tem de receita, você não pode gastar mais do que recebe. Esse, para mim, é o fair play financeiro.
Me incomoda [o que Textor falou], porque é mentira. Eu nunca fiz nada para ele. Pelo contrário, eu fico muito feliz, porque eu gosto que chame para cima realmente. Eu gosto de elevar o nível técnico. Eu não gosto de nivelar por baixo. E o Botafogo hoje elevou o nível técnico, está com um grande time. Então, é isso que eu tenho que fazer. Buscar o melhor para fazer com que o Vasco tenha um grande time também.
Leila Pereira e a Defesa do Fair Play Financeiro
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, chama a atenção para a inconsistência entre a capacidade de contratar e a habilidade de pagar salários e outros compromissos financeiros. Sua fala no podcast "Flávio Prado Entre Amigos" reforça a necessidade de uma regulação mais estrita para garantir um campo de jogo nivelado entre os clubes.
Vamos falar de fair play financeiro. É uma coisa muito séria. Aqui no Palmeiras, nós temos essa responsabilidade, mas isso tinha que ser obrigatório. É injusto o Palmeiras deixar de contratar por não querer deixar de honrar os compromissos com os meus profissionais, enquanto outros clubes contratam. Não sei como. Se não paga salário do jogador, como que está adquirindo novos atletas? Essa conta não fecha. Tanto não fecha que está cheio de clubes quebrados.
Teria que ser implementado o fair play financeiro. Isso é para a saúde do futebol brasileiro. E vou mais à frente. O presidente tinha que ser responsabilizado pessoalmente pelos desmandos dentro do clube. Se não é fácil, eu torro uma fortuna, saio e largo no colo do próximo presidente. Você é responsável e vai pagar com o seu patrimônio. As leis deveriam ser mais rígidas no futebol. É tudo muito permissivo e por isso os clubes estão quebrados. Como que eu posso entrar no Palmeiras com quatro ou cinco meses de salários atrasados dos atletas e eu ainda adquirindo jogadores? Isso não entra na minha cabeça e não deveria entrar na cabeça de ninguém. O presidente vai sair, é um imediatista, ele quer conquistar o próximo campeonato, o torcedor fica “felizinho”, e no ano seguinte está o clube estourado, sem dinheiro para nada. Deveria vir até de cima, da CBF, uma determinação para que se implemente fair play financeiro para organizar as finanças desses clubes.
Eu acredito. A situação é tão catastrófica de determinados clubes que tem que ter uma solução. Participo da Comissão Nacional de Clubes, não sou membro, sou convidada, eu e o Flamengo. Na última reunião, ficou definido que vai se ressuscitar um projeto, porque já houve trabalho cinco anos atrás, de início de fair play financeiro, um teste. Está embrionário ainda, mas vamos começar a estudar para propor à CBF a implementação. Mas vou falar que alguns clubes não vão querer, está confortável, gastam o que querem, saem da gestão e não acontece nada. Mas eu acredito. Não a curto prazo, mas o caminho tem que esse. Se não todos os clubes vão estar quebrados. O Palmeiras não, enquanto eu for presidente, porque eu não deixo.
Não precisaria ser fair play financeiro tão rigoroso de cara, seria paulatinamente, senão inviabilizaria a maioria dos clubes. Mas vamos sim estudar uma proposta para fazer à CBF.
Essa é uma questão que todas as pessoas que querem falar da nossa gestão falam, do conflito de interesses. Desde que fui eleita esse assunto vem. Nunca entendi que se trata de conflito de interesses, porque o contrato foi assinado pelo presidente Maurício Galiotte. Na época, se juntássemos os dois maiores patrocinadores de rivais na época que renovamos, não daria 70% da Crefisa e da FAM no Palmeiras. Eu era conselheira. Fui eleita, o contrato estava em andamento. Hoje, minhas empresas seguem rigidamente o contrato assinado pelo presidente Mauricio Galiotte. Não vejo conflito de interesse nenhum, o código de ética da CBF não diz que é conflito de interesse um patrocinador ser presidente. Não vejo conflito de interesse onde só ponho dinheiro, não faço nenhum outro tipo de negócio com o Palmeiras. Inclusive com a aeronave que adquiri para o Palmeiras utilizar, [o clube] não gasta em fretamentos de aeronave, economizou R$ 4 milhões este ano. Só estou aqui para colaborar com o Palmeiras. O contrato vai vencer em dezembro, estamos no mercado, fazendo concorrência, para saber realmente o valor da camisa do Palmeiras. Se a Crefisa quiser entrar na concorrência, porque tem direito de cobrir, se entender, quem vai decidir não sou eu, é o conselho de orientação e fiscalização. E eles decidiriam. Se não quiserem, quem vai definir sou eu, porque a presidente define. Conflito de interesses não existe.