Presidente do São Paulo, Julio Casares, tem criticado o modelo de gestão do Botafogo e defendido a implementação do Fair Play Financeiro no futebol brasileiro
O futebol brasileiro vive um momento de grande debate em torno do Fair Play Financeiro. O tema, que tem sido pauta em diversas reuniões e entrevistas, ganhou ainda mais força com as recentes declarações do presidente do São Paulo, Julio Casares, que tem direcionado suas críticas ao modelo de gestão do Botafogo e à Eagle Football, holding do norte-americano John Textor.
Neste artigo, vamos analisar as principais divergências entre os clubes, as implicações para o futebol brasileiro e os possíveis impactos da implementação do Fair Play Financeiro.
O Fair Play Financeiro no centro da discussão
O Fair Play Financeiro tem sido defendido por Casares como uma forma de garantir a sustentabilidade financeira dos clubes e evitar a criação de desequilíbrios competitivos. O dirigente tricolor argumenta que a disparidade de investimentos entre os clubes prejudica a competição e coloca em risco a saúde financeira do futebol brasileiro.
Estive realmente na CBF, na Comissão Nacional de Clubes, com grandes clubes do Brasil, foi uma reunião muito positiva. Se discutiu, além da arbitragem, que precisa melhorar, o calendário, que não é questão de sacrificar o campeonato ou outro, tem que chamar a indústria para a conversa, para todo mundo dizer como se tem que ver, construindo um modelo de transição, e o fair play financeiro.
Na questão do fair play a nossa preocupação basicamente, e aqui não há nenhuma colocação ao clube SAF ou não, tem SAF com investimento e SAF que não funcionou, é que você tenha uma regulação da atividade, onde um clube que fatura X não pode ter investimento na contratação de um jogador que seja acima do seu faturamento. É algo que contraria os órgãos reguladores. Nós temos que pensar no mercado. Quem fatura mais porque foi muito competente ou porque tem uma torcida maior, ou porque fez gestão, pode dentro de um percentual, estabelecer um teto de investimento.
As críticas de Casares se concentram principalmente no Botafogo, que tem recebido investimentos significativos da Eagle Football e tem apresentado um desempenho superior nos últimos campeonatos. O presidente do São Paulo questiona a origem dos recursos utilizados pelo clube carioca e a viabilidade do modelo de gestão adotado.
Outra coisa que nos preocupa são grupos que representam um clube no Brasil e são donos de outros clubes no mundo, onde fazem uma ciranda de atletas. Coloca atleta ali, depois vende o atleta para o próprio grupo. Eu não sei qual foi o tipo de valor, se foi de mercado ou corporativo, e eu sou sócio talvez de alguns atletas que já tiveram vendas internacionais de grupo para grupo. Eu questiono: “Os meus 15% foram de mercado ou foram questões de transações corporativas?” Chegou a hora da CBF abrir esse espaço!
Pela primeira vez eu vejo um entendimento desses grandes clubes para tocarem em situações difíceis que são arbitragem, calendário e fair play financeiro. E o fair play financeiro não é choro de quem fatura menos. Hoje você vê o Botafogo liderando, parece que é por causa do Botafogo… O Flamengo, por exemplo, o que ele vai fazer dentro do orçamento dele, é problema do clube. Seja de Flamengo, Botafogo, Palmeiras ou São Paulo. Agora, você ter um faturamento que tem o teto X e investir em futebol acima desse teto, há um desequilíbrio esportivo. Isso é muito claro. Todo mundo tem que encarar que tem uma regra de equilíbrio.
É claro que um clube que fatura um bilhão vai poder investir mais do que aquilo que fatura 500 milhões. Isso é da natureza do mercado, mas temos que ter regras. Se não, todos os clubes vão se tornar uma SAF, cada um decidindo da sua forma, porque não há salvação. Eu não sou contrário à SAF, isso pode ser discutido um dia, mas o que vai valer mais: uma SAF com investidor que pega um clube organizado ou investidor com o pires na mão, como vimos no Brasil em três ou quatro situações, ou um clube totalmente arrebentado? E esses clubes não conseguem mais se recuperar. E eles podem vir com um dono sério ou com aventureiro. É isso que o futebol como patrimônio do povo tem que ser protegido.
A polêmica e as contradições
No entanto, as declarações de Casares têm sido alvo de críticas por parte de outros dirigentes e especialistas. Muitos argumentam que o Fair Play Financeiro pode limitar a competitividade e dificultar a ascensão de novos projetos. Além disso, a própria gestão do São Paulo, que também enfrenta problemas financeiros, tem sido questionada.
Na questão do fair play financeiro, parece que a questão é colocada agora, mas não, essa questão já foi colocada. E não se pode fazer relação com a liderança competente dentro de campo do Botafogo. Não há nenhum chororô nesse sentido. Mas temos que discutir a capacidade de investimento de clubes que faturam X e só em futebol investem muito mais que esse X. Isso tem que ser colocado, porque há um desequilíbrio técnico e esportivo.
Outra coisa são as cirandas de jogadores. Um clube que representa um grupo de diversos clubes pode fazer ciranda, põe jogador aqui, vai lá, depois volta. Precisamos estabelecer que pode acontecer sim, mas com janelas específicas, quem sabe a cada duas janelas? Não estou falando de clube específico nenhum, mas é um acontecimento. Se tenho grupo com quatro ou cinco clubes, mando para lá, depois trago. Pior, posso fazer venda para clube do meu grupo com valores corporativos. Isso tem que ser examinado. Até porque sou sócio eventual de percentual desses jogadores, quero que seja comercializado no mercado com o melhor valor possível. Merece da Fifa, da CBF, da Conmebol, uma vigilância e uma fiscalização de cada operação e das transações.
É um exemplo. Sem nenhum tipo de acusação leviana, porque não faço isso. Mas um jogador que foi convocado para a Seleção Brasileira, Perri foi convocado, e tem valor bem menor que o de mercado. Suscita dúvida, não temos condição de fiscalizar. Confiamos no bom senso dos dirigentes e das equipes. Mas precisamos de apuração, que pode ser da Fifa e de órgãos superiores em cada transação. Acontece em cada lugar do mundo. Não posso, um garoto formado na nossa base que chega à Seleção, não sei como está atuando hoje, tem valor de mercado aquém até do que orçávamos, o percentual que tínhamos direito. Não faço juízo de valor, sou cauteloso, mas queremos que o futebol brasileiro possa estabelecer daqui para a frente avaliação melhor de cada um dos pontos desses clubes. É a minha posição. Fair play pode começar a trabalhar no sentido dessas origens e dessas cirandas de jogadores dos mesmos grupos financeiros.
A postura do São Paulo em relação à arbitragem também tem sido contraditória. Após criticar o Botafogo por buscar soluções extracampo, o clube paulista recorreu à CBF para protestar contra a arbitragem em um jogo contra o Fluminense. Essa atitude tem sido vista como hipocrisia por parte da torcida e da imprensa.
O São Paulo Futebol Clube lamenta profundamente a forma como foi conduzida a arbitragem na partida contra o Fluminense […] e os seus desdobramentos. O áudio do VAR demorou cinco dias para ser liberado, sendo que a publicação ocorreu somente depois de dois ofícios protocolados pelo Clube. Diante do conteúdo absurdo do áudio, o São Paulo estuda junto ao seu corpo jurídico quais medidas serão tomadas.