Glorioso se reapresenta apenas na quinta (06)
O Botafogo perdeu a primeira dentro Estádio Nilton Santos neste Campeonato Brasileiro. O adversário foi o Flamengo e o placar de 2 a 1 pela 22ª rodada deixou o Glorioso, líder isolado, parado com 51 pontos.
Apesar do revés, a equipe viu sua vantagem na ponta cair apenas um ponto (de 11 para 10), já que o Palmeiras empatou com o Corinthians neste domingo.
Comentaristas analisam momento do Botafogo
Veja algumas opiniões de comentaristas sobre o momento vivido pelo Glorioso e as principais opiniões.
Gian Oddi
Sou um crítico contundente do ambiente que vivemos no futebol brasileiro, de pressão. Entendo que muita gente tenha achado um absurdo, olhando de fora é, pelo que gera, por todo o contexto, por gerar crise em time com vantagem enorme. Ainda que tenha perdido um jogo, foi para um elenco muito poderoso. Entendo quem não se conforma com a declaração, mas sabendo como as coisas funcionam, qual a lógica, cruel e burra, que não faz sentido para ninguém, é a nossa dinâmica. É assim que lidamos com o futebol aqui. Não consigo também, apesar de ver a declaração como de certa maneira nociva e descabida, não consigo dar porrada sem saber o porquê, embora ele pudesse ter trazido mais explicitamente.
Paulo Calçade
Da mesma forma que treinadores portugueses interferem na cultura de jogo do Brasil, entendo que, positivamente, há um choque. Quando nos apresentam as equipes que treinam, dizemos o quanto as entrevistas são legais, os jogos são repletos de detalhes, o quanto trabalham bem. Nossa realidade de futebol é um choque para eles. Porque o futebol é o esgoto emocional aqui. Estamos com o pé no esgoto todo dia. Tem os tipos mais malucos querendo interagir. Por causa de uma bola rolando, um jogo de futebol. É sério, bacana, envolve muita gente, dinheiro, empregos, mas ainda é um jogo, não precisa tanto. Eles não estão preparados para esse esgoto, como se lida, tem críticas até ao líder, “se você não atrapalhar, será campeão”. Futebol é sujeito a variações, o Palmeiras já sofreu, o Flamengo, o São Paulo, o oitavo já foi campeão tirando o primeiro. Tem algo que pertence ao futebol e a nossa cultura, quem vem tem que entender que o país vai o pressionar em uma série de coisas.
Vitor Birner
Tenho impressão, não certeza, que ele notou algo diferente na maneira que os jogadores do Botafogo estão reagindo aos momentos adversos. Algo que identificou ou avaliou que vem de fora para dentro. Não acredito que a pressão tenha vindo de dentro do clube, da SAF, que vem gerenciando tudo de forma exemplar, até a eliminação no Carioca. Outra questão é não estar acostumado, tudo aqui é uma novidade insana. Entendo a insatisfação de perder um clássico em que não foi pior que o Flamengo, não dá para dizer que está jogando menos que com Luís Castro, talvez até mais. Mas antes, com méritos, jogava menos, igual ou mais que o adversário e ganhava. Contra o Flamengo, não foi pior, e perdeu. Talvez tenha jogado mais nesse jogo que no primeiro turno, quando não perdeu. O treinador olha tudo isso, olha seus jogadores, desconfia de queda na confiança e dá essa declaração, que estrategicamente é perfeita. Se a torcida está pressionando, os jogadores podem diminuir essa pressão, vai tudo no treinador. Foi um movimento impensado, porém perfeito para ajudar o Botafogo a seguir bem no campeonato. Se perder o campeonato, vão olhar só para ele, não vão criticar jogadores, SAF ou John Textor. De maneira impensada, fez algo estrategicamente perfeito.
Paulo Nunes
O erro de escalação, no meu modo de ver, não foi só nesse jogo. O Botafogo tem essência fundamental, principalmente no tapetinho, com dois jogadores de velocidade pelo lado, que ajudam na marcação e tem força apra atacar. Ele ou joga no 4-4-2 ou quando coloca um Segovinha ou Sauer, é um jogador que traz para dentro. Falávamos “será que vai mudar?” Nenhum treinador é igual ao outro, ele tem a ideia dele, vai pensar do jeito dele, e não consegue. Não tem esse tamanho todo, mas acha que tem, vai querer colocar na prática o time dele. O Botafogo cai muito, isso é nítido. Perde a essência de velocidade, transição rápida e força – avaliou Paulo Nunes, que não curtiu a atuação de JP Galvão na lateral.
Bruno Henrique jogou muito, mas JP também deu motivo para ele jogar bem, marcando por dentro quando tinha que marcar por fora. O Flamengo aproveitou, não se foi ideia do Sampaoli, jogava por dentro e buscava mano a mano. Jogou dessa maneira.
Conrado Santana
O que falei do JP, antes mesmo do programa começar, é que Bruno Henrique é um jogadoraço, qualquer lateral vai ter dificuldade. Foi algo mais coletivo, largou no mano a mano em várias oportunidades, Victor Sá, Marlon Freitas e Adryelson poderiam ajudar no lance do gol. JP tem pouca rodagem no profissional, falam que ele é volante, mas na base jogou na lateral muitas vezes, é lateral sim. No profissional jogou poucas vezes, imagina marcar o Bruno Henrique naquele lado direito? O Botafogo foi mal, além do JP tinha o Segovinha. É pesado culpar o JP, porque do outro lado tinha o Bruno Henrique. Coletivamente o Botafogo ficou devendo nesse setor.
Zinho
São dez pontos, é uma belíssima vantagem, mas perdeu o clássico dentro de casa, a invencibilidade no tapetinho, e por escolhas dele a vaga na Sul-Americana. Aí vem a contestação. Fui totalmente contra a escalação que fez contra o Defensa y Justicia no primeiro jogo, que empatou. Poupou, só botou dois titulares, tomou uma vaia, o torcedor cobrou e reclamou, porque time não correspondeu. Uma semana depois, na Argentina, faz o contrário, bota quase o time todo titular, só não jogaram Adryelson, Eduardo e Tiquinho Soares. Perde o jogo e a classificação, o torcedor vai no aeroporto aplaudir e apoiar. Porque era o jogo contra o Flamengo, grande rival, está fora, desclassificou, priorizou, mas tem que ganhar do Flamengo. Aí vem a derrota, vem toda uma cobrança, uma pressão.
Acho que ele já fez uma estratégia, “está pressão em cima de mim, reclamando de escolhas, trago para mim a responsabilidade. Não é possível que falou meu trabalho está ruim, perdi o clássico, será que vou perder o título?” Ele sabe que a diretoria não aceitaria demissão, que jogadores iam se manifestar pela permanência. Aí, ninguém falou do time, se teve falha ou não, das escolhas de JP e não Do Placido, do Segovinha e não JS ou LH. Ficou mais sobre a declaração dele e a não entrevista, porque se levanta e sai. Ficou mais em cima de que entrega o cargo e encerra a coletiva. Acho um grande exagero.
Eugênio Leal
Se sou o Textor, ouvindo essa declaração, falo “vai, o olho da rua é serventia da casa. Caçapa, você é meu técnico até o final do Brasileiro”. Bruno Lage mostrou que não tem condições de guiar o Botafogo ao título brasileiro. A pressão que ele sente é dele próprio em cima dele, não aguenta a pancada, não aguenta a responsabilidade de pegar time voando, que já oscila, muito em função de ideias dele. Como botar JP e Segovinha. Errou até o fim, porque JP terminou o jogo, Segovinha não tem nem corpo para marcar. Virou uma avenida, sofreu o jogo inteiro por ali. Ele no banco tem obrigação de entender isso. Por que o Di Placido não jogou, ficou no banco os 90 minutos? Porque o menino que era terceiro reserva é titular em clássico com Flamengo? Perdeu jogo marcante, com muito significado. Luís Castro teria escalado o Botafogo com Di Placido e Júnior Santos, porque sabe que aquele lado é o mais forte do adversário, precisava de jogadores de experiência e mais porte físico. Bruno Lage deixou, Segovinha saiu no segundo tempo, JP terminou o jogo. Além do erro de leitura, demonstrou claramente que no aspecto psicológico não está pronto para comandar o time do Botafogo. Foi mal no jogo e pior ainda na coletiva. Eu já teria dado a liberação. Pega o caçapa e vai até o fim com ele.
Nathalia Ferrão
O timing está errado. Ele é cobrado contra o Defensa y Justicia porque poderia ter garantido resultado melhor em casa para fazer a volta. Mas é um planejamento do clube de abdicar da Sul-Americana e focar no Campeonato Brasileiro. Mas não é um time que está jogando mal, tem jogado bem, como contra o Flamengo, tem desfalques, Tiquinho voltando de lesão. Ele vai para coletiva e cria situação pior para o clube, líder do Brasileiro, dez pontos à frente do segundo. Não tinha necessidade alguma. A torcida foi receber no aeroporto após eliminação, no sentido de incentivo. O time oscilar e perder é normal. Não foi para um time da zona de rebaixamento, foi para um que tem Bruno Henrique. Se não soube minimizar, o problema foi o Bruno Lage. Foi muito infeliz nas escolhas para jogar e nas palavras que usou. Não é um time na zona, é um time para ser campeão, só depende do Botafogo. E só depende dele, que sentiu a pressão.